O dia da Europa visto por um europeu pouco europês, isto é, sem rebuços de revisionismo histórico estalinista
A fotografia que foi encenada no dia seguinte, como, entre nós, este ano, se comemorou o dia na véspera
O discurso de Schuman de 9 de Maio de 1950 obedeceu a um esquema de planeamento de operações de carácter quase militar. Em primeiro lugar, havia uma questão de agendas. Com efeito, para esse mesmo dia 9 de Maio, estava marcadas para a parte da manhã, reuniões dos conselhos de ministros em Paris e Bona. Para os dias 11 e 12 de Maio, em Londres, uma reunião dos ministros dos estrangeiros norte-americano, francês e britânico sobre a questão alemã. Para o dia 18, uma reunião do conselho ministerial da NATO.
Jean Monnet, com a colaboração de Pierre Uri, Étienne Hirsch e Paul Reuter, tinha elaborado um plano que no dia 1 de Maio era já aprovado por Robert Schuman.
O inspirateur, a quem De Gaulle chamava um grande patriota...norte-americano
No sábado, dia 6 de Maio, já o documento adquire forma definitiva. Tomam então conhecimento do mesmo os Ministros da Justiça, René Mayer, que há-de ser o sucessor de Monnet na Alta-Autoridade, e o Ministro do Ultramar, René Pleven.
Domingo, dia 7: o secretário-geral do ministério dos estrangeiros, Alexandre Parodi, é posto ao corrente do processo. Do mesmo modo, Dean Acheson, que fazia escala em Paris, é informado por Monnet do projecto em curso.
Segunda-feira, dia 8: parte para Bona um enviado especial de Schuman, Michlich.
O formal autor do discurso, com ar de meu avô, um francês da Lorena, membro da Europa vaticana
Terça-feira, dia 9: na parte da manhã reúnem os conselhos de ministros da França e da RFA. O chefe de gabinete de Adenauer, Blankehorn, interrompe o conselho e entrega a Adenauer as cartas de que era portador Michlich.
Já passava do meio-dia quando Clappier recebe comunicação de Bona com o assentimento de Adenauer ao projecto. É só então que Schuman desvenda o segredo aos restantes ministros.
Outro agente vaticano, o homem de Colónia, que então era o líder da Alemanha Ocidental, a segunda grande peça da bela engrenagem que nos deu paz
Os jornalistas são convocados para as 18 horas, para aquilo que deveria ser anunciado de maneira espectacular. Durante a tarde recebem-se os embaixadores dos países europeus
Um jornalista pergunta a Schuman:Então, é um salto no desconhecido? e este responde: É isso, um salto no desconhecido.
O terceiro grande contratante do tratado de paz, o chefe italiano, outro agente de Pio XII, também aliado de Washington
Nesse dia, o embaixador da França em Londres, René Massigli, é recebido no Foreign Office por Bevin. Attlee estava fora das ilhas britânicas, em férias.
No dia 10, reunia-se a conferência dos Três em Londres sobre a questão alemã. O partido liberal propõe a participação britânica. Os conservadores, através de um discurso de Anthony Eden, recomendam idêntica atitude. Mas a imprensa, do Times ao Daily Express, teme a palavra federação e receia pelo fim da independência britânica.
O chefe trabalhista britânico, que via a Mitteleuropa de fora e um pouco acima
No dia 11 de Maio, quinta-feira, aqueles que virão a ser os seis Estados Membros aprovavam o plano de Schuman e não é por acaso que nesse mesmo dia se instituia o partido de Adenauer, a União Cristã-Democrática.
O então Primeiro-Ministro britânico, o trabalhista Clement Attlee, faz um discurso nos Comuns onde saúda a reconciliação franco-alemã, mas deseja que se proceda a um exame aprofundado das implicações económicas.
O grande criador da coligação negativa que nos deu a CECA e ex-inspirador de alguns pais da Europa de hoje, quando ainda acreditava que o Ocidente cairia de pôdre e não contabilizava as divisões vaticanas
Nesse mesmo dia, Attlee tem uma resposta cuidadosa. Se felicita a iniciativa francesa, dado pôr fim a um conflito secular com a Alemanha, não deixa de referir que a mesma teria de ser objecto de uma reflexão cuidadosa.
Nos dias 14 e 19 de Maio, Monnet desloca-se a Londres, acompanhado por Hirsch e Uri. procurando convencer o governo britânico, principalmente através de Sir Plowden, o responsável pelo Plano.
Um dos que disse não ao 9 de Maio e acreditava no oui par le non de uma Europa que vai ser do Atlântico aos Urais e com nações
Em França, vários grupos se opõem ao projecto, de gaullistas (RPF) a comunistas. O próprio De Gaulle, em discurso proferido em Metz, no dia 19 de Maio de 1950, proclama expressamente on propose en méli-mélo de charbon et acier sans savoir où l'on va aller en invoquant un combinat quelconque.
A CGT fala no plano como um atentado à soberania nacional
O governo britânico toma posição formalmas a posição formal do governo de Sua Majestade, do dia 31, não é esperançosa: deseja participar nas negociações , mas sem se comprometer com os princípios da mesma.
Em 3 de Junho surgia um comunicado, emitido simultaneamente nas capitais dos seis, onde se proclama que tais governos decididos a prosseguir uma acção comum de paz, de solidariedade europeia e de progressos económicos e sociais, consideram como objectivo imediato a colocação em comum das produções de carvão e de aço e a instituição de uma Alta Autoridade nova cujas decisões ligarão a França, a Alemanha, a Bélgica, a Itália, o Luxembrugo, a Holanda e os países que a tal aderirem.
O pai tirano que mandava cá na gente, fundador da NATO, da OECE, da União Europeia de Pagamentos e da EFTA, outro membro de uma Europa Vaticana, mas do tempo de Dolfuss e da ideologia de Bento XV
Contudo, no dia 3 de Junho o Reino Unido recusa aderir à CECA. Queria continuar a privilegiar os laços que o ligavam aos USA e não queria abdicar do modelo da Commonwealth. Pela mesma altura, a direcção do Labour emite um documento onde expressamente rejeita qualquer espécie de autoridade suprancional. Aí pode ler-se aliás que estamos mais próximos da Austrália e da Nova Zelândia que da Europa pela língua, as origens, os costumes, as instituições, as concepções políticas e os interesses.
Depois, Mac Millan, algumas semanas depois, em pleno Conselho da Europa, tenta ainda propor uma forma de associação menos profunda e mais centrada sob o controlo do Conselho da Europa.
Não tarda que Attlee venha a criticar o carácter não democrático e irresponsável da Alta-Autoridade
Em 20 de Junho começavam no Quai d'Orsay as conferências dos seis, sob o impulso de Schuman e Monnet, visando instituir a comunidade do carvão e do aço. Conforme os europeístas de então, visava-se a criação de uma autoridade supranacional de competência limitada mas com poderes efectivos.
O verdadeiro inspirador do 9 de Maio, então mais preocupado com o anticomunismo e o rearmamento alemão, em tempos de Guerra da Coreia
A delegação francesa era presidida por Monnet e a alemã por Walter Hallstein. Monnet declara então: trata-se de levar a cabo uma obra comum, não de negociar vantagens, cada um deve procurar a sua vantagem na vantagem comum. Se discutimos enquanto entidades nacionais, os rancores de outrora reaparecerão; é somente na medida em que eliminarmos das nossas discussões o sentimento particularista que uma solução poderá ser encontrada.
Contudo, alguns dias depois, a 25 de Junho, iniciava-se a Guerra da Coreia, circunstância que vinha valorizar a posição alemã.
Em 7 de Julho os países beneficiários do Plano Marshall instituíam uma União Europeia de Pagamentos, que vai durar até 1959, constituindo um sistema de compensações multilaterais, a fim se substituir o sistema de compensações bilaterais de dívidas e créditos.
Os factos constam das Memórias de Jean Monnet e de qualquer história séria da Europa, tipo Fontaine, Gerbet e Massip. Não terão sido adequadamente lidas pelos europês oficial que ontem foi aos croquetes ao CCB, depois de prévio convite dos ex-eurocratas e ex-europarlamentocratas lusitanos, com emprego político em part-time e consultadoria como principal fonte de rendimento. Alguns destes ditos só conhecem os meandros da história da ascensão e queda de georgianos em Moscovo e de bibliotecários da Faculdade de Economia em Pequim.
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