a Sobre o tempo que passa: Memórias, para ter saudades de futuro e colóquio no PS

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.6.06

Memórias, para ter saudades de futuro e colóquio no PS

E cá estamos, acompanhando o nascer da luz do dia, neste nascer de novo, todos os dias, onde quase sempre começo pela memória. Que hoje é tempo de recordar três pequenos episódios da nossa identidade.

Primeiro, que em 1930 terminou o julgamento do burlão Alves dos Reis, esse génio monetarista que poderia ser amuleto da Escola de Chicago.

Em segundo lugar, o ano de 1978, quando foram presos os dirigentes do PRP/BR, a drª Isabel do Carmo e o meu amigo Carlos Antunes, de quem sou companheiro no movimento cívico Intervenção Radical.

Em terceiro lugar, a subida à liderança do PS de Vítor Constâncio. Que nunca foi adepto de Alves dos Reis, mas que é governador do Banco de Portugal. Que nunca foi das Brigadas Revolucionárias, mas foi ministro das finanças. E que, enquanto líder do PS pós-Soares, libertou o programa do partido de algum lixo ideológico marxista, adaptando-o ao sistema Bad-Godsberg do SPD do final da década de cinquenta e adiantando-se ao PSD que só cronologicamente depois tirou o marxismo das suas referências programáticas, com um projecto de Durão Barroso, sob a liderança de Cavaco Silva.

E perdoem-me os estimados leitores que continue este exercício de memória e identidade, mas como sabem os especialistas um povo sempre foi uma comunidade de significações partilhadas e gosto de cultivar estas raízes, para poder continuar a ter saudades de futuro.

Agradeço publicamente ao PS do Barreiro a circunstância de ontem à noite, até aos começos da madrugada de hoje, poder ter tido o prazer de discutir política, numa mesa moderada por Eduardo Cabrita e com a companhia de Carlos Zorrinho, onde ganhou, sobretudo o empenhamento cívico de um auditório municipal cheio de gente com vontade de militar. Até me deixaram manifestar a minha fé de liberalão pouco neo-liberal e de europeísta capaz de conciliar o federalismo à Rougemont com um nacionalismo universalista, como pode ser o dos portugueses que têm como mestres Agostinho da Silva e Fernando Pessoa.