a Sobre o tempo que passa: Da direita que convém à esquerda ao policiamento caçafascista

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.3.07

Da direita que convém à esquerda ao policiamento caçafascista

Afinal o mar não galgou a costa, durante a madrugada. Ainda bem! Foi aqui que, há um par de anos, me escrevi em mar salgado, em pleno nascer da manhã, quando, descendo o monte, a palavra me deu música de apetecer ficar diante de mim, diante do mar. Aqui ainda há sítios ermos sem gente a fazer turismo de fim de semana. Aqui não encontraremos esses restos de mortos vivos, plenos de penduricalhos que correm o risco de morrer engasgados pelas comendas que assinalam a respectiva inutilidade semovente que vai expelindo os resquícios de suas ressacas alambicadas que nos vão poluindo em desvergonha.

Por isso, acordo com as notícias de uma reunião de duas centenas de pretensos notáveis em reunião num hotel de 5 estrelas que acaba com gritos e pateada, em tempos de sucessivas conspirações de alcatifa, com Maria José Nogueira Pinto a ameaçar abandonar o partido. Porque um antigo notável do CDS e distinto economista acaba de proclamar sobre o PSD que "se Santana avançar com outra força partidária, não vai levar ninguém do PSD consigo, só alguns amigos mais chegados". Porque um antigo presidente do PSD, que diz estar a reconstruir e a consolidar a sua vida profissional, replica: "não estou a preparar a minha saída. Estou é a dizer que não podemos ficar todos na mesma casa." Maria José chegou a ser membro de um governo do PSD contra o CDS. Ribeiro e Castro chegou a abandonar o CDS e a colaborar numa campanha eleitoral do PSD. Paulo Portas começou na JSD e só entrou para o partido com Manuel Monteiro que, depois, derrubou, assim comfirmando esta coerente confusão de narizes na direita a que chegámos.

Vale-nos que a PSP - do Comando de Lisboa e da Direcção Nacional - tem vindo a recolher informação sobre movimentações políticas. Para já, tem dados sobre o que considera a extrema direita e diz ao JN ter conhecimento do ambiente de tensão acrescida, mas mantém-se confiante. "A informação que temos a vindo a recolher aponta para esse esforço da Extrema-Direita no meio escolar, mas a situação tem vindo a ser controlada por nós". A PSP dá conta, aliás, de que a Extrema-Direita tem vindo a alterar gradualmente a sua conduta "Querem abandonar a imagem clássica do 'skinhead', violento e sempre disposto ao confronto, e assumir uma postura mais politicamente correcta, que lhes dê mais espaço de manobra".

Espera-se que nos informe sobre o que está a acontecer com a extrema-esquerda, o fundamentalismo religioso, incluindo o católico e o islâmico, informando-nos, naturalmente, sobre os critérios constitucionais que lhe permitem qualificar de forma politicamente legal esse tipo de investigações. Porque qualquer conceito de extrema-direita minimamente consensualizado pelos que pensam de forma racional e justa implica que se investigue todo o campo do pensamento em causa, isto é, abrangendo tanto estudantes como professores, tanto movimentações na rua como movimentações no pensamento, dos blogues aos jornais, dos livros às conversas de bar.

Eu pensava que, constitucionalmente falando, qualquer português pode ser da extrema-direita e até expressá-lo publicamente. Não pode é movimentar-se no âmbito de uma organização fascista, dentro do amplo conceito legal que abrange tanto racistas como separatistas. Logo, a PSP deve actuar imediatamente e investigar donde vêm os votos em Oliveira Salazar, num recente concurso televisivo e encerrar imediatamente a RTP que está assim a contribuir para que floresçam organizações constitucionalmente proibidas.

De qualquer maneira, acho extremamente perigoso que uma polícia repita comportamentos policiais do antigo regime. Julgo que foi com base em idênticos processos analíticos antifascistas que a polícia política do antigo regime fez uma limpeza dos nacionais-sindicalistas de Rolão Preto, para acabar com as camisas castanhas e ficarmos todos vestidos de camisas tipo feijão verde. E o mesmo método foi levado a cabo pela PIDE, fundada em 1945, que caçou todos os exilados nazis que por aqui estacionavam. Porque, em verdade, em verdade deve ser dito, Salazar foi um autêntico ditador anti-nazi e anti-fascistas italianos. Aliás, dizem os jornais, que ontem foi preso, num país governado pela esquerda e noutro continente, um antigo militante da extrema-esquerda italiana, com mandato de captura internacional. Porque os criminosos não têm cor e a direita e a e esquerda das extremas não são causas justificativas do crime.