a Sobre o tempo que passa: Os bonzos, os endireitas e os canhotos desta ditadura da incompetência

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.3.07

Os bonzos, os endireitas e os canhotos desta ditadura da incompetência

Neste segundo aniversário de uma governação que não é carne nem peixe, mas “action man” do bloco central de interesses, em luta contra o défice, em regime de pilotagem automática, conforme a ameaça de défice, para uso da comissão europeia, depois das congratulações na Quinta das Lágrimas com a eleição de Cavaco e da manifestação de vontade de regresso de Paulo Portas, precisávamos que outros dois endireitas, no desemprego mediático, Santana Lopes e Manuel Monteiro, viessem aos holofotes dos telejornais.

O pretexto chamou-se “estados gerais da direita”, organizados pelo partido registado em nome de Monteiro. O local foi o eterno seminário dos sucessivos regimes, uma Faculdade de Direito, sob o patrocínio do Professor Catedrático Doutor Paulo Otero. As ideias não foram nenhumas, a não ser a ameaça do ex-primeiro-ministro quanto à necessária reorganização do espaço dito do centro-direita, com insinuações sobre a ineficiência de Marques Mendes, enquanto Monteiro, assumindo a sua obsessão antiportista, acrescentou umas notas-pé-de-página sobre a permanecente crise do CDS/PP. O povo ouviu e continuou a seguir as comemorações do meio século de vida da RTP.

Eu não ouvi, já ando a ouvir, há muito, esses restos de música celestial, com os constantes bailados da tal direita que convém à esquerda. E, na prática, tais notícias são não-notícias. São meros factos políticos de criadores e criaturas. Pouco interessa que Marcelo se tenha posto contra Santana e os "gatos pingados" de Monteiro e Otero (Profe comentador dixit), recordando a anterior ameaça santanista de um Partido Social Liberal.

De pouco vale que Júdice tenha entrado na liça, atacando o amigo Marcelo. Ou que Marques Mendes apareça, denunciando o projecto pessoal de poder de Sócrates. Cavaco vai mesmo celebrar a energia limpa, vinda da ventania. E António Vitorino vai substituir Vasco Vieira de Almeida na presidência da assembleia-geral da Brisa. Está farto de partidos.

Desejo apenas votos de boa saúde a Jerónimo de Sousa, que foi visitar um hospital no Centro-Norte e acabou internado em Lisboa, enquanto os jornais anunciam que há 150 000 funcionários públicos em risco, que o governo fez 2 373 nomeações na área livre para a partidocracia e que o Estado a que chegámos, com tanta obesidade, sem músculo forte nem osso calcificado, se fica assim pelo dinamismo da propaganda e das sucessivas reformas administrativas, desde que Marcello Caetano criou a moda, na segunda parte da década de cinquenta do século XX.


Na prática, hoje, não há mesmo notícias. Mas apenas comentários sobre os comentários da vida política, feitos pelos eternos bonzos da situacionismo, onde também querem entrar os endireitas e os canhotos, neste crescente ditadura da incompetência que nos rege.