a Sobre o tempo que passa: Aos que não perdem a rebeldia do serem do contra, com que sempre tecemos a aventura da liberdade

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.3.07

Aos que não perdem a rebeldia do serem do contra, com que sempre tecemos a aventura da liberdade

Não vou aqui registar os comentários que fiz sobre o primeiro ano de mandato de Cavaco Silva, em comentários feitos ao JN e à Lusa, dado que repetiria as opiniões que neste blogue tenho manifestado sobre a matéria, nem sequer gastarei mais palavras sobre o anunciado regresso de PP ao seu PP, conforme aquilo que declarei a Ana Clara em "O Diabo" desta semana, apesar de serem parcas as notícias que, nos jornais de hoje, me provoquem, porque noto como os investigadores judiciais entraram em regime de estratégia, mais ou menos, global, como se nota nas fugas de informação que pingam dos processos mais quentes.

Hoje preferi navegar noutros espaços da Net, nomeadamente nos comentários que alguns bons alunos fazem sobre algumas leccionações universitárias. Julgo que alguns colegas meus, se conseguissem navegar nestes reinos corariam de vergonha, enquanto eu prefiro orgulhar-me de gerações que vão emergindo que sabem misturar as boas ideias de sempre com as novas tecnologias e que conseguem manter a rebeldia. Infelizmente, muitos dos meus colegas ainda pensam que os estudantes são os institucionais dirigentes dessas coisas chamadas "jotas", onde vão treinando em vícios os estúpidos profissionais da política que nos regem, assim os treinando nessa antipolítica a que se chama compra do poder.

Infelizmente, esse atentado à educação para a cidadania, a que chamam gestão democrática das escolas, continua a suscitar os maus hábitos, herdados da barganha salazarenta das escolas de regime e reforçados pelo treino de manobrismo que circulam os congressos dos grandes partidos que nos dominam. Quando as escolas descem ao nível rasca das secções partidárias, com padrinhos de jotas que já ultrapassaram o meio século de existência, temo que tanto de corrompam as escolas como os próprios partidos e, consequentemente, a própria democracia.

Prefiro saudar aqueles dirigentes de partidos que continuam a apostar na autenticidade e a educar a sua própria juventude, quando proclamam que eles devem viver como pensam e repudio todos os senhores professores que nos jogos do poder manipulam as jotas dos partidos de que têm cartão de filiado. Por mim, enquanto fui membro de partidos, sempre me senti honrado quando nunca admiti que batessem à porta do meu gabinete escolar os meus jovens correlegionários, tal como nos partidos nunca manobrei com os meus alunos. Porque, para um professor, todos os partidos de todas as jotas devem ser iguais.

Até me recordo de, ainda há uns meses, ao estar na minha escola com um dirigente de um partido meu adversário em ideias, que eu tinha convidado para uma conferência, ter reparado que o mesmo dava ordens aos seus jovens militantes da escola para não entrarem em maquiavelismos, porque ao entrarem em coligações politiqueiras, estavam a ganhar votos, mas a perderem a alma. Por acaso, o senhor até se chamava Miguel Portas e merece aqui o meu reconhecimento pela dignidade.

Infelizmente, vejo agora que alguns manobradores do situacionismo preferem o nível rasca da intriga e vão chafurdando em falta de qualidade, insultando quem se opõe ao que está e não se importando em santas alianças com inimigos da própria democracia, só para aguentarem o tacho de distribuição dos subsídios, nesses ilusórios nacos com que entramos em desvergonha. Por isso, saúdo a coragem de alguns alunos que não perdem a rebeldia do serem do contra, com que sempre tecemos a aventura da liberdade ocidental.