a Sobre o tempo que passa: In our time, political speech and writing are largely the defence of the indefensible

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.4.07

In our time, political speech and writing are largely the defence of the indefensible

Em dia de não haver espectaculares notícias sobre a ponta visível desse "iceberg" da crise universitária, dito UnI mais engenhocas, passo os olhos pela memória dos professores e pensadores saneados pelas fúrias construtivistas dos novos regimes, quando eles ainda tinham a ilusão de transportar, pelo decretino soberanista, o camartelo dos "amanhãs que cantam" e tratavam de destruir as fachadas e as fundações das respectivas heranças, esquecidos que estavam da circunstância de todas as revoluções serem pós-revolucionárias. Assinalo os zé agostinho de macedo de todos os tempos, das contra-revoluções aos prec, e tudo simbolizo com um José Acúrsio das Neves a morrer numa choça. Power is not a means, ist an end. One does not establish a dictaorship in order to safeguard a revolution; one makes the revolution in order to establish the dictatorship (George Orwell).

Temo que continuemos a mudar com o furor dos caceteiros e dos pingos de cêra, a escavacarem a inteligência, onde há sempre um Frei Fortunato dito de São Boaventura a presidir a uma comissão de avaliação, para o estabelecimento de um novo compêndio único, ad usum das unhas rapaces de um qualquer cardeal Cunha, assente no seu antro. Temo que, no exílio, na prisão ou na morte cívica, tenhamos que continuar a comer o pão amargo da liberdade, só porque os regeneradores não querem aproximar-se da vontade de sermos independentes nessa balança da gestão de dependências que sempre foi a balança da Europa. War is peace. Freedom is slavery. Ignorance is strenght (George Orwell).

Julgo que é possível cicatrizarmos muitas dessas feridas e estabelecermos um novo sentido de bem comum, se não cairmos nas tentações magnicidas, ou nas ilusões salvíficas. Já há trinta anos que não há memória de persiganga e saneamentos, com fradescos, caceteiros e sargentadas. O que agora temos é a cruenta verdade de não ser verdade o discurso sobre a sociedade de certificadas qualificações, comparatistas avaliações, justos "benchmarkings", honestos "outsourcings" e reais "e-learning" e "e-government". In our time, political speech and writing are largely the defence of the indefensible (George Orwell).

Ainda estamos a tempo de mobilizações para o bem comum e de retirarmos os melhores do activismo abstencionista, limpando as trapalhadas reformistas e partidocráticas onde nos enredaram. Nestas matérias, eu já vi muitos porcos a andarem de bicicleta e não estranharei se deparar com seguidores de Amparo Cuevas, aliados a psicopatas militantes, elaborando planos de limpeza dos escombros de um sistema definitivamente abalado na sua credibilidade. All animals are equal but some animals are more equal than others (George Orwell).

Precisamos apenas de juntar pontas de meada, mesmo que se façam rupturas relativamente a este crescente desencanto, onde todos lêem os mesmos manuais de procedimentos, onde todos se deixam deglutir por este ritmo, comandado por um novo "big brother" desta "animal farm", onde todos somos iguais, mas onde só uma pequena minoria de privilegiados é mais igual do que a maioria dos outros, isto é, dos que continuam em desespero, na anomia da história dos vencidos, sem direito à revolta. Who controls the past controls the future: who controls the present controls the past (George Orwell).

O próprio D. Sebastião científico que nos prometia os "amanhãs que cantam" também chegou ao seu próprio "fim da história". Quando é que nos deixamos de sectários colectivismos morais? The Catholic and the Communist are alike in assuming that an opponent cannot be both honest and intelligent (George Orwell).