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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.7.07

Boas férias, tudo como dantes, sem que o quartel-general esteja em Abrantes e sem que os loibos uvem em São Bento...


Dei agora um salto à RCP, para comentar a drenagem das charruadas e lá tive que recordar que a qualidade de uma democracia não se mede por sabermos quem manda, mas antes por sabermos como de institucionaliza o controlo do poder. Democracia não é sondajocracia. Aliás, Hitler obteve uma maioria numa democracia, a da República de Weimar, e a Inquisição era bastante popular, com pressões do braço popular em Cortes, quando o rei queria abrandar o terrorismo de Estado, e amplas adesões das massas aos autos de fé. Aliás, em determinados momentos de pânico securitário, mesmo dos nossos dias, se a pena de morte fosse a referendo, logo revogaríamos a respectiva abolição, constante do Acto Adicional à Carta de 1852 e do decreto de 1 de Julho de 1867.


Tem razão Alegre quando fala no medo. E também tinha razão quando falava do mesmo medo durante o cavaquismo e nos congressos do PS dominados pelo aparelhismo. Não tem razão Sócrates quando ironiza com estas lembranças. Depois de séculos de inquisição e de quase meio século de autoritarismo, se eliminámos os aparelhos de repressão, manteve-se o subsistema de medo que os mesmos geraram e não se apostou na revolução cultural educativa que desse autonomia às pessoas, com a consequente meritocracia.


Deixámos subsistir os colectivismos, herdados do beatério catolaico ou comunista, onde qualquer um para se libertar dos pecados adere a uma dessas seitas, dizendo que não recebe lições de democracia dos adevrsários e demonizando-os com um qualquer adjectivo depreciativo.


Acresce que o PS, com poucos dirigentes da ala histórica, ou que tenham estado na Alameda contra o gonçalvismo, como esteve Alegre e não estiveram os "correias de campos", é a primeira vez que tem uma maioria absoluta, dirigida por um antigo JSD. E o tradicional partido plural, complexo, federativo e liberdadeiro, sentindo-se inquieto, vai-se contorcendo em azias, deixando que as vozes da rebeldia fiquem apenas com dissidentes como Alegre ou José Medeiros Ferreira.


Esquece-se que o poder não é uma coisa que se conquista em "spoil system", mas antes uma relação, uma relação entre os aparelhos e a comundidade, entre o principado da governança e a república dos cidadãos, onde a sociedade civil não se reduz à CIP e aos loibos que sabem uivar e que não podem institucionalizar-se no parlamento, para não fazerem concorrência aos senhores deputados que pretendem monopolizar a actividade disfarçadamente, num país onde o importante não é ser ministro, é tê-lo sido, para recordar uma conhecida exclamação de António Almeida Santos, como amanhã glosarei na RTP.


Boas férias, tudo como dantes, sem que o quartel-general esteja em Abrantes...