a Sobre o tempo que passa: Lá vamos gaguejando e cientificando, levados, levados, não

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

6.8.07

Lá vamos gaguejando e cientificando, levados, levados, não






Foi há poucos dias publicada uma entrevista do senhor ministro-presidente da Europa em matéria de ciência, e também supremo reformador das nossas universidades, que, do alto da sua vitória, nos manifesta que ainda está vivo o militante do verdadeiro e extremista socialismo científico, embora se presuponha que já deve ter abandonado as suas fúrias marxistas-leninistas. Verifico, contudo, que ainda conserva um restrito conceito de ciência que faz da ciência que diz praticar a única que merece o dom de arquitectónica, remetendo todas as outras para a categoria de ocultas servas dos professores pardais. As ideologias passam, as metodologias ficam.


Todo ele feito da tal ciência certa e do inequívoco poder absoluto, voltado para a vanguardista felicidade dos povos, continua a considerar que só existe aquilo que pode medir-se e que só é mundo o mundo que ele conhece. Daí que tenha a ousadia de determinar como paradigma apenas aquilo que se radica nas suas ideológicas raízes de despotismo teórico, aquilo que julga poder elevá-lo, de forma estruturalista, às culminâncias de um estadão decretino.


Até um anterior Prémio Nobel lusitano é determinado como simples acaso da área médica. Daí que, por mim, fomule um simples desejo: que deixe em paz criativa os portugueses à solta que procuram aquela imaginação politicamente científica que estimula todos os que pensam comunitariamente de forma racional e justa. Desses que, para serem científicos, não têm que vestir-se daquelas fatiotas pós-modernas que se iludem em captar as luzes das pretensas nações polidas e civilizadas.


Essas perspectivas, mui axiomaticamente-dedutivas e mui sintético-compendiárias, à boa maneira das deduções cronológico-analíticas dos livros únicos, podem conduir ao terrorismo de uma decepada razão que, se aliado ao decretino do Estado, acaba por reduzir-se a mais uma ideologia oficial. Especialmente quando não compreende que a razão inteira é uma razão complexa, axiológica e normativa, plena se símbolos, de imaginação e com muito lume da profecia. Não deixemos cair nos bolsos rotos da conspiração laboratorial dos batas brancas esses pretensos desperdícios que até fazem, da república, a comunidade das coisas que se amam.