a Sobre o tempo que passa: Os bailados da fina flor da plutocracia e dos muitos feitores de ricos...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.8.07

Os bailados da fina flor da plutocracia e dos muitos feitores de ricos...


Bem tento interromper a rotina do dia a dia capitaleiro, entre os deveres de função e a própria análise das nossos politiqueiros. Bem tento guardar no corpo as escamas de sal e os restos de areia. Bem tento que o tempo que me dê tempo, para, perdendo o tempo, ganhar mais tempo. E até há velhotes sentados nos bancos da marginal, vendo cair a noitinha, aproveitando a brisa, aproveitando a vida e até eu vou fazendo meus diários exercícios espirituais, neste pátio interior, bem algarvio, e até me vou escrevendo e rememorando, deixando fluir o tempo que passa e não prende.

Meia dúzia de dias de férias já me fizeram diluir em normalidade, longe dos golpes de estadão e das cobardias que foram escavacando, em oportunismos carreiristas e politiqueirice o que resta de algumas instituições que perderam a alma. É bem grave a nossa crise de povo, especialmente quando os organismos através dos quais o mesmo se expressa se entregam episodicamente às bebedeiras da personalização do poder, com muitos pequenos césares de multidões, com os seus festins de oclocracia.

O paradigma da governabilidade dos Pinto da Costa e dos Alberto João vai intoxicando um corpo dilacerado por epidemias de oportunismo, corrompendo as fundações sistémicas que nos deveriam mobilizar para o bem comum. Resta uma canalhocracia feita desse misto de empregomania e de subsidiodependência, borbulhagem que julgávamos banida pelo bom senso da experiência histórica.


Entretanto, a mais devota e milenária entidade produtora de usura do nosso quotidiano pós-revolucionário, inspirada pelos espirituais cilícios, demonstra como também nas obras divinas pode haver facciosismos por causa da conquista do poder, onde contam mais os lucros do que os metafísicos exercícios espirituais. Talvez porque, no longo prazo dos além do porta-moedas, estejamos todos mortos.


Mesmo o belo dos choques tecnológico-bancários dos "young urbans" capitaleiros acabou desfeito por uma avaria virosa no sistema informático. E o belo plenário que concentrou alfandegariamente um belo naco dos nossos donos do poder, a tal fina flor de uma plutocracia, que se aprimorou para as televisões, apenas permitiu um novo discurso do principal accionista do Benfica, que acabou por fazer belo negócio com aquela PT que impediu de ser anexada pelo Belmiro, bem como novas alegações facturadas dos feitores dos ricos que restam a esta pequena casa lusitana.


Uma assembleia bancária tornou-se assim em mais um evento "jet set", ornada daqueles trejeitos que fazem sucesso na imprensa cor de rosa, que a pequena burguesia invejosa consome sob os toldos, à procura de um lugar mais ao sol na longa fila dos que ainda acreditam na ideologia do homem de sucesso. Resta o comité central da moção do homem de Fafe, onde brilha outro ex-político, convertido ao negocismo, confirmando como, em Portugal, o importante não é ser ministro, mas tê-lo sido...


Resta concluir que toda a culpa nestes casos vai directa para o povão que continua a preferir ser consumidor e audiência desta publicidade enganosa e a ter a ilusão de ganhar algum com a consequente sociedade de casino, ambas instauradas pelo cacete ilusionista, onde a Maria da Fonte se transformou em hino oficial das visitas ministerais e o monopólio estadual dos jogos de fortuna e azar cabe a uma coisa, também estadual, mas que ainda conserva o nome de Santa Casa dita da Misericórdia. Amen...