a Sobre o tempo que passa: Entre as delícias do mar e os toucinhos do céu

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

20.2.08

Entre as delícias do mar e os toucinhos do céu


ASAE apreende cinco toneladas de delícias do mar fora do prazo de validade. Esperemos que, em breve, chegue ao toucinho do céu, dado que o Tribunal Constitucional acabou de condenar o PSD por financiamentos eleitorais ilegais e o Tribunal de Contas chumbou o grande empréstimo alfacinha. Por outras palavras, há micro-instituições subestatais que começam a dizer que funcionam, em dia de comemoração de três anos de socratismo, efeméride para a qual já dei o meu contributo blogueiro, bem como comentários esparsos na comunicação social, como hoje no "Público" e ontem no "Diabo" e no "Meia Hora".




Não comento a encenação de um político cubano que disse retirar-se de cena. Apenas recordo que foi educado pelos jesuítas antes de se licenciar em direito. E que a partir de Julho de 1958, fracassada a ofensiva de Batista para o suprimir, ele os seus rebeldes ocuparam a parte oriental da ilha e lançaram a sublevação geral. Os comunistas aderem ao movimento apenas em Outubro desse ano. Surgem várias colunas rebeldes, vindas dos campos para as pequenas cidades, destas para as capitais de província e, finalmente, destas para Havana, num processo em espiral. O chamado foquismo triunfava. Batista foge no dia 1 de Janeiro de 1959, vem para o Estoril, e Castro torna-se primeiro ministro em Fevereiro. Já no crepúsculo este cubanogalego será visitado solidariamente pelo galegocubano Manuel Fraga Iribarne, porque as culturas, as confrarias e as identidades são mais importantes do que as ideologias.

Em 13 de Janeiro de1959 chegou a declarar: nem eu, nem o movimento são comunistas. Os grandes jornais norte-americanos que o transformaram em herói, romântico e barbudo, exultaram. Dois anos depois, em 2 de Dezembro de 1961, já proclama: serei marxista-leninista até ao último dia da minha vida. A versão latina do esquerdismo universal ganhava um chefe e muitos passavam a esquecer as realidades quotidianas de uma crua ditadura, assente em fuzilamentos, e de um totalitarismo feito de polícias de pensamento único. Não há toucinho do céu que sempre dure, mas, às vezes, as delícias do mar fora do prazo de validade duram décadas e décadas, continuando mesmo depois da personalização do poder cair de uma cadeira...

PS: Imagem do pinamanique de tal déspota iluminado, saboreando a bela água choca do imperialismo