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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

28.2.08

Esta ilusão da reforma pela reforma, produzida por uma serôdia ideia de tecnocracia e pela teimosia leviatânica do Estado em movimento


De Bruxelas, confirma-se que, no parlamento europeu, a roubalheira conseguiu institucionalizar-se, nas curvas e contracurvas das assessorias aos senhores super-deputados. Por cá, a pátria lá tem que aturar a nova lei da disfunção pública e que assistir aos devaneios do ministério da avaliação, com a consequente literatura de justificação dos discursos do primeiro-ministro que, sim, senhor, diz que é preciso reformar e que é preciso avaliar, mesmo sem dizer quem é, donde vem e para onde vai, ou o deixam ir...


O nosso querido primeiro-ministro, que aprendeu a subir ao vértice da pátria no manual da co-incineração, especialmente quando esmagou, num debate televisivo, o "guru" Boaventura, tenta, agora, dar uma imagem de teimosia reformista, meio cavaquistanizada, talvez para se poder revoltar, mui freudianamente, contra a pantanosa dialoguice dos tempos do chefe Guterres.


Reconhecendo este pano de fundo, nada tenho de irritabilidade contra a senhora professora doutora em sociologia das organizações que o grande chefe colocou no cume da avenida cinco de outubro. A cara colega podia ser uma tão excelente secretária de estado do simplex, quanto a doutora Manuela Leitão Marques poderia assumir a liderança da autoridade nacional da concorrência, ou o meu amigo director da ASAE poderia passar para secretário de estado da reforma pública.


O ministro não tem que ser um pensador. E aqui e agora, sem filósofos ditadores, basta-lhe assumir o estilo da presente viradeira, com o vigor e a compaixão de um qualquer intendente, para que o chefe finja que é Sebastião José, às segundas, Rodrigo da Fonseca, às terças, António Maria, às quartas, Afonso Augusto, às quintas, e Aníbal Cavaco, às sextas, descansando ao sábado, logo que chega a hora do "jogging" à Sarkosy, e ao domingo, quando vai aos filmes dos óscares, à Obama.


Daí que eu assuma, por dentro, a revolta dos professores. Não contra a eventual má imagem da senhora ministra da avaliação, mas contra o erro de que ela é mera agente. Essa ilusão da reforma pela reforma, produzida por uma serôdia ideia de tecnocracia e pela teimosia leviatânica do Estado em movimento, onde o argumentário manda que os governantes pareçam determinados na determinação, só porque procuram o confronto com uma qualquer ordem profissional, contra a qual se insinuam eventuais privilégios corporativistas, interesses imobilistas e outras tretas.


Foi assim com Correia de Campos, até que o povo saiu à rua, não para se aliar ao vértice do Estadão, mas para dizer que estava farto de providências cautelares. Infelizmente para Sócrates, já não pode ser assim com Maria de Lurdes Rodrigues. Porque teria de ser assim com muitos outros ministros. Mesmo que Menezes somado a Portas não ultrapassem o chefe nas sondagens, algo vai apodrecendo cada vez mais nesta Parvónia... Por tudo isto, também irei para a rua, no dia da marcha nacional dos professores.