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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.3.08

Todos estes insignes ficantes do tempo que passa continuam a não ser causas, mas meros sintomas deste interregno



Vi ontem o documentário "Zeitgeist", depois de saber os resultados das eleições russas, que antes de o ser já o eram. Achei graça à renovação da teoria da conspiração, acrescentada com umas pitadas de gnosticismo de trazer por casa, sempre à procura de certezas tipo "Protocolo dos Sábios do Sião", só porque os acontecimentos da política internacional são complexos e imprevisíveis, neste sistema de governança sem governo, com muitas pilotagens automáticas nos pequenos e médios Estados, dependentes do directório das potências e gerindo interdependências.




Prefiro recordar como a ministra da avaliação recebeu uma filigrana gondomarense e um banho de elogios de Valentim, quando decidiu brincar ao "agenda setting" e descer a uma encenação de povo, com o apoio do representante corporativo dos pais lusitanos e não sei se das famílias ditas numerosas. Decidi esquecer, porque daqui a um pedacinho vou começar as minhas aulinhas do segundo semestre e tenho de cumprir o meu dever, não para com as avaliações, os livros de ponto ou os "videos" de vigilância instalados na minha escola, mas para com a comunidade que me paga para eu poder ajudar gerações sucessivas a pensar individualmente, talvez com alguma imaginação politicamente científica.


A senhora ministra, os senhores autarcas, os senhores directores e todos estes insignes ficantes do tempo que passa continuam a não ser causas, mas meros sintomas deste interregno. Não sabem de onde vêm, nem por onde, ou para onde, vão. Infelizmente, servem de instrumento para aqueles que ousam destruir as instituições da sociedade civil que, até agora, não tinham sido estadualizadas, especialmente quando o aparelho de Estado se vai transformando em agente de um vago processo de colonização imperial, onde têm que ser condicionadas as resitências individuais e dos grupos a que a cidadania dava vida.