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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

6.5.08

Com fátimas, futebóis e fados, entre tias de cascais na caridadezinha, loureiros no olhão que joga no boavista e ermelindas do gaivota voava, voava


Antes do anúncio da candidatura do menino-guerreiro, o senador Balsemão volta à política, subscrevendo mais uma candidatura do PSD, assim se aproximando do estado celestial de Adriano e de Soares, demonstrando a vitalidade pátria e a aposta nas novas gerações e nas bases populares. Pelo menos, este gerente de firma, não faz como os seus seis mil companheiros de tarefa, os tais que apenas recebem o salário mínimo nacional, coisa que o esquerdismo dominante já qualificou como fuga ao fisco, quando, para mim, são humildes missionários do liberal-capitalismo que seguiram o exemplo das remunerações recebidas por Álvaro Cunhal, a fim de misionarem o ideário heróico de Adam Smith e Hayek, entre os infiéis lusitanos ainda marcados pelo corporativismo salazarento e pelo sistema de cunhas neofeudais da pós-revolução pós-abrileira.


Felizmente que fomos visitados pelo rei da Suécia e pela brasileira consorte que, ontem, ao cair do dia, passaram mesmo diante da minha varanda, na estreita rua da Junqueira a caminho do palácio de Cavaco, quando, na tasca do Prado, regressávamos às caracoletas em jantar de tribo familiar, falando que estávamos na futura diáspora de nós todos: uns contando-me as histórias do nosso Afonso III que andou lá para os lados de Boulogne, com que muitos confundem o sítio italiano donde nos vieram as universidades medievais e outros, preparando-se para partir para Delaware, lá para as terras fundadas pelo quaker William Penn. Por mim, lhes ia contando as minhas conversas de gente minha aluna e orientada, do melhor que a pátria produziu em exames e teses e que, agora, aprenderam o que eram os concursos públicos para bolsas, subsídios e entradas na docência, os tais com fotografia e pré-marcados, que antes de o serem, mesmo com registo na bolsa de emprego público, já estão ocupados pelos filhos, sobrinhos ou camaradas dos organizadores dos mesmos.


Porque quem é filho de algo consegue sempre que haja um desses normais anormais, das excepções às regras desta amoralidade maquiavélica do neofeudal bloco central do situacionismo e lá consegue ascender ao olimpo dos instalados, mesmo que os controleiros desçam aos meandros das burocracias e não consigam ver os bois diante dos palácios, dado que todos eles fazem parte da raça dos macacos cegos, surdos e mudos, apesar de terem lido os versos de Sophia. Depois, lá tenho que aturar o pai do cunhado, a fazer discursos televisivos em comemorações oficiais, clamando contra a presente degenerescência do regime, que terá perdido a utopia. Por isso, ainda ontem, nas aulas, a pretexto do século XVI, lá eu distribuía pela sala, o original de John Gray, Black Mass, do século XXI, onde um teórico da LSE, que não dá cursos práticos de ciências sociais, nos alerta para esta encruzilhada de gnosticismo, incompreensível para toda uma geração que nada sabe de teologia e confunde sucedâneos religiosos com ideologias politiqueiras, quando, na prática, as teorias são outras, dado que, aqui e agora, só funciona a literatura de justificação dos eternos donos do poder, mesmo que as investigações alienígenas nos demonstrem a total falta de difusão da kantiana ética republicana e a vitória da golpada fidalgueira, bem demonstrada pela fuga ao fisco e pela bandalheira da empregomania, porque nos continuamos a drogar com fátimas, futebóis e fados, entre tias de cascais na caridadezinha, loureiros no olhão que joga no boavista e ermelindas duartes no gaivota voava, voava. As caracoletas, afinal, não estavam más, e viva o rei da Suécia, mesmo que não tenha trazido o Erikson para os meus lampiões. Sempre me recordo da ajuda que tais nórdicos nos deram em Vestefália, 1648, quando a ONU do papa estava ao serviço de Madrid e nem sequer reconhecia a nossa independência pátria, conseguida no primeiro de dezembro. Apenas me apetecia que me dessem lugar no primeiro Mayflower que parta barra fora para um qualquer novo mundo. A quem devo meter cunha?