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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.6.08

A um opositor não se bate nem com uma flor, mas apenas com um ferro embrulhado em papel vegetal, para que as marcas do poder não deixem rasto


Lê-se o seguinte: More bloggers than ever face arrest for exposing human rights abuses or criticising governments, says a report. Since 2003, 64 people have been arrested for publishing their views on a blog, says the University of Washington annual report. In 2007 three times as many people were arrested for blogging about political issues than in 2006, it revealed. More than half of all the arrests since 2003 have been made in China, Egypt and Iran, said the report.


A primeira reacção portuguesa à matéria foi esta: A impunidade de acusar em público tem de acabar, ou caminhamos para a selva. Quem conhece factos, que os tenha no sítio e actue junto das autoridades.


Dentro em breve, divulgarei um case study, onde se demonstra como a china town lusitana, marcada pelo pós-totalitarismo dos subsistemas de medo, prefere não espremer, gota a gota, o escravo que cada um tem dentro dele, animada pelos moscas do intendente e pela ameaça de os invasores nos mandarem para o maneta que é todo liberdade, igualdade e fraternidade de el-rei junot. Embora digam, ufanamamente, que são de esquerda, declarando que, a um opositor, não batem nem com uma flor, logo acrescentam que apenas se deve bater com um ferro embrulhado em papel vegetal, para que as marcas neopidescas não deixem rasto.


Os pequenos micro-autoritarismos lusitanos, sobretudo os subestatais, não batem nem prendem, mas não deixam de ser mugabes ao ritmo de hugo chávez. Perseguem, usam o ostracismo e transformaram os instrumentos do Estado de Direito no princípio da legalidade do velho Estado Novo, nas suas extensões coloniais de governo dos espertos, onde a lei é permissiva para os amigalhaços e apoiantes da lista, mas implacável para os que dizem não ou decidem "dissidir". Não lêem o que se diz nos órgãos próprios, não ouvem o que se denuncia às autoridades e só falam em literatura de justificação do poder pelo poder, porque consideram que a política é a técnica hobbesiana do homem de sucesso, ao ritmo da "Wille zur Macht", com variantes freudianas. Até mandam fazer contrablogues, com as mais sórdidas campanhas de assassinato de carácter, porque pensam que, enquanto o pau vai e vem folgam as costas...