a Sobre o tempo que passa: Apenas temos que juntar o bem que anda por aí disperso em facciosismo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.10.09

Apenas temos que juntar o bem que anda por aí disperso em facciosismo

Quem assistiu ao debate de ontem entre os directores do Expresso, do Público, do DN e da TSF, apenas tem que louvar a corajosa conclusão do Provedor da RTP, o Professor Paquete de Oliveira. Entre os quatro, acabou a falsa hierarquia de um deles ser o mais referencial de todos e todos serão obrigados a levar a história até ao fim. O presidente Cavaco continuou a desprestigiar-se. O governo e o PS, até agora, conseguiram escapar aos pingos da chuva.

O velho paradigma do país urbano e capitaleiro que considerava a província como paisagem a colonizar com emissões de semanários e telejornais emitidos pelas fontes geralmente bem informadas da sociedade da corte foi quebrado. Foi nas profundezas de Entre-Douro-e-Minho que, depois de ser a população mais jovem de Portugal, se deu a mais corajosa das mudanças, enquanto nos arredores da cabeça da república se instalaram pequenos jardins de subsidio-dependência e de instalados, onde até Otelo Saraiva de Carvalho apoiou Isaltino, tal como Seara correu numa lista onde sobressai a sombra de Ângelo Correia.

A maior parte dos autarcas eleitos nas muitas dimensões do país das realidades, ao ser insultada como corrupta, deve promover a necessária revolta, em nome dos muitos povos da nossa complexidade. Por mim, estava disposto a recebê-los no Cais das Colunas, com vivório e foguetório, obrigando o Paço a escolher Passos Manuel para a necessária moralidade da revolução de Setembro. Lisboa precisa de ser cercada por instituições republicanas.

Os factos demonstram como os aprendizes de feiticeiro que colonizaram o PSD, esses endireitas do presidencialismo, do santanismo e do jardinismo, foram os melhores aliados do situacionismo socrático e não parecem dignos dos povos que ainda confiaram nalguns dos principais autarcas do partido. Continuem a rezar missas por alma do Salazar e terão todos um bom enterro!


Isto precisa de uma coisa evidente: de coragem de homens livres que acabem com este maniqueísmo absurdo. O tal que não reconhece que o lado bom tem enormes pedaços de mal e o lado mau, pedações de bem. Apenas temos que juntar o que anda disperso.