Ontem não escrevi aqui. Embebedei-me de metafísica, saramaguizei-me e andei semeando provocações no Facebook, até reli o singelo apocalíptico de uma pastorinha de Fátima, com o seu infinito poema do mistério humano. Comecei por malhar no Mário David, eram 18 h e 29 min.:
Alguém pode ter vergonha de ter algum outro como compatriota. E até aceitar que, a coberto da liberdade de expressão, se emitam palavras que a mesma liberdade de expressão permite qualificar como imbecilidades e impropérios. Mas nunca um excelente eurodeputado sobre outro cidadão europeu, por acaso, um dos nossos mais excelentes escritores, que até vai ser imortalizado na Casa dos Bicos.
Acrescentei, depois:
Uma das consequências da liberdade religiosa é o direito à manifestação do ateísmo. Isto é, não deve ser proíbido, ou condicionado, o discutir Deus, tal como deve haver estímulo à procura do infinito e logo de Deus e dos deuses. O progresso é crescer para cima e para dentro. O homem é o único animal que sabe que vai morrer e que pode escolher entre Deus e o Diabo...
Concluindo, hoje:
Há uma pequena bíblia da religião secular de Portugal emitida no século XX, a "Mensagem" de Fernando Pessoa. Tal como os outros livros sagrados, há que ter altura simbólica para a interpretar. Desmistificar nunca foi de-mitificar. Até Saramago não consegue ser interpretado por ele próprio. É a outra face da moeda do segredo da irmã Lúcia. E estão os dois na mesma altura do metafísico...
Nos intervalos, de polémicas amigas, fui acrescentando:
Diabo, do grego diabolos, isto é, aquele que separa. Etimologicamente, aquele que separa um homem face a outro homem e aquele que o separa de Deus. Não é o diabo-papão dos catecismos, mas aquela escolha que a nossa liberdade permite fazer, ao contrário do que acontece aos restantes animais. Só os homens têm Deus e o Diabo. E às vezes, quem quer ser anjo é que mais depressa se torna diabo, porque escolhe organizadamente o mal pelo mal, através de uma decisão moral. Pobre Lobo, nunca praticou genocídio e democídio...
E mais digo: o PSD costuma cair sempre nas rasteiras dialécticas de Saramago. O Padre Manuel Morujão, em nome da Igreja Católica, foi mais sublime. Ainda funciona bem a "ratio studiorum" e já não estamos no tempo das inquisições de católicos, anticatólicos, protestantes, judeus e ortodoxos...
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