a Sobre o tempo que passa: Cintilações. De Teresa Bracinha Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.12.09

Cintilações. De Teresa Bracinha Vieira


CINTILAÇÕES

Um dia espreitei Alexandre o Grande. Ele sabia do seu posto de vigia que mundos eu espreitava e que ele unira como uma tribo que em comum afinal possuía a religiosidade.

Um dia espreitei Alexandre o Grande e senti o quanto ele se separou dos seres intermédios na busca do significado armilar dos mundos com vocação de abraço.

Um dia espreitei Alexandre o Grande e entendi um especial significado sagrado e simbólico de matar para entreabrir portas como quem oferece o beijo quente do êxtase inaugural de um conhecer.

Um dia espreitei Alexandre o Grande e toquei no início dos caminhos dos grandes sistemas que explicam o que se prescreve e se permite e o quanto a história nos fala também num tom piedoso e repreensivo como quem nos diz que afinal, um dia, não se pode evitar fazer de outra maneira e só na caça cumprimos os vestígios do nascimento do homem, sempre que o homem não mate apenas para obter a presa.

Um dia espreitei Alexandre o Grande e ciumei o seu perceptor Aristóteles e a sua Macedónia e o seu ímpeto de unir impérios e fundar Alexandria onde hoje procuro uma vez mais o Livro.

Um dia espreitei Alexandre o Grande aquele que expandiu o helenismo também rumo ao Oriente, aquele que erigiu Bucéfala no actual Paquistão, em memória do seu fidelíssimo cavalo que se assustava com a própria sombra e se deixou domar contra o Sol: cintilações.

Um dia espreitei e escutei Alexandre o Grande através do Somewhere in Time, disco da banda inglesa Iron Maiden e creio ter intuído o Helesponto, a actual Dardanelos, estreito na vida de cada um com o grande passo por dar.

Um dia, eu quero espreitar cada um a desembainhar a espada com a qual cortará o nó górdio que impede a revelação das múltiplas verdades, esse que impede a alma do ofício do entendimento, e sem nunca revelar o mistério completo, eu quero espreitar a grande nobreza a prometer-se de novo no Ano que chega, a despedir-se do ano que finda e a cumprir-se na notícia do tempo que todos os seres vivos têm para a mudança.

Um dia espreitei Alexandre o Grande e soube disso na caça de uma palavra evocativa do…Que sabias realmente?

Teresa Ribeiro Bracinha Vieira

27.12.09