a Sobre o tempo que passa: Contra o beatério fracturante dos prós e dos contras!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.2.10

Contra o beatério fracturante dos prós e dos contras!


Pode parecer paradoxal, mas, quanto mais sou mobilizado pelos meios radiofónicos, televisivos e escritos da comunicação social, para pensar, ao vivo, as circunstâncias, mais preciso de apoio da metapolítica. Por isso, por aqui não tenho escrito. Porque continuam intensas as minhas pesquisas de teologia política, para poder ser prático... Não é ironia!

Nos tempos do PREC, quando a instabilidade a nível do supremo poder quase chegou à transmissão de golpes em directo pela televisão, alguns observavam que o vencedor das jogadas nunca era o autor do golpe, mas o gestor do contragolpe.

Quando tudo aponta para o regresso àqueles acasos procurados, onde não é a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, apetece aconselhar alguns mais histéricos de tácticas, isto é, de disposições de forças no terreno, que importa mais uma estratégia e muita paciência. Porque é o homem que faz a história, mas sem saber que história vai fazendo.

Por isso recordo o comentário que, em Setembro de 2009, fiz ao manifesto do João Gomes de Almeida: “Não posso dizer que concordo com tudo, porque a forma mais irracional de racionalidade é assinarmos manifestos. E este é tão indisciplinador que merece mesmo ser manifesto”.

Estou farto de tacticistas que julgam obter vitórias berrando e esgotando-se em acções tomadas contra um inimigo, apenas quando este entra no campo de visão. Prefiro ir além daquilo que é possível ver. Ir além da simples técnica do bota-abaixo. Prefiro uma outra maneira de pensar e não o mero irmão-inimigo do situacionismo.

Porque, como dizia Castex, a estratégia é como o espectro solar: há um infravermelho que pertence ao campo da política e um ultravioleta, o domínio da táctica. Prefiro a política.

Imaginemos que Sua Santidade o Papa dizia que não tinha visto, não tinha ouvido e não tinha lido isso de bispos pedófilos ou de bispos que ocultaram pedófilos, só porque um deles estava em caminho beatificante. Era hipocrisia. Eram sarcófagos pintados da cor de ex-adjuntos de gabinete socrático postos em empresas ou contratos de regime...

Suas ministerialidades e suas "girls", "boys" e "lgbts", mesmo que titulados em juridicidades e malhadeirismo, devem recordar que a justiça é a mãe do direito e que o primeiro preceito é o do "honeste vivere", porque nem tudo o que é lícito é honesto, para além do "alterum non laedere" e do "suum cuique tribuere"...

Há, neste PS, um beatério fracturante que não passa de um transplante fanático naquele tronco de um PS com o qual deveria ser incompatível se, por dentro das coisas, a natureza do partido realmente fosse. Isto é, se o poder pelo poder não tivesse unidimensionalizado o originário liberdadeirismo...