A mudança dos núcleos. De Teresa Vieira
A MUDANÇA DOS NÚCLEOS
A tarde procura a noite e no que se refere ao país, julgo que estamos numa épreuve de force sem pesadas componentes na defesa do futuro.
Recordo que uma das fortes noções de humanidade em progresso, chega-nos do sec. XVIII quando se acreditava na ideia de Condorcet, e que assentava numa força indefinida da realidade, sendo esta constituída por humanidade em movimento, num casamento de pré-funcionamento de tudo.
Agora, as “leis” são mais ambíguas, sofrem de todas as interpretações restritivas ou/e elásticas, consoante as circunstâncias da verdade, e se acaso forem "leis" de direito natural, a magistratura do mando pretende criar a ciência desumana da não crença em nada.
Em consequência as ideologias seguem apenas as situações de facto, enquanto os homens agradecem o convite de se mostrarem ávidos robots.
Entendemos que é preciso combater o desperdício institucional da alma, esse que dá calor às casas e que, julgo ser em si só uma atitude.
Como sempre se soube, só vale a pena lamentar as vitimas quando se denunciam os carrascos, por um lado, e por outro a academia tem de se mostrar mutante quando tudo se reduz a um intoxicante modelo.
Também creio que os intelectuais não devem recear comprometer-se face a esta prospectiva de decadência. Há que explicar aos que os aguardam o que afinal está ameaçado. Há que explicar qual é o sinal do espectáculo que promove a morte da vida.
O Alçada dizia-me que só acreditava na mudança se ela fosse a mudança interior e a que chamei então de mudança dos núcleos, aquando dos serões que fomentámos no âmbito da Lisboa-Capital da Cultura em 1998.
Penso o mesmo, mas acrescento que a questão prévia é a do acontecimento-ruptura a partir do qual, aí sim, surgirá o novo ciclo.
Certo é que continuarei a lutar por uma aposta nova, por um acontecimento que englobe diversas tendências num lugar de encontro.
Estamos aí.
Teresa R.B. Vieira
14.02.10
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