a Sobre o tempo que passa: A mudança dos núcleos. De Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.2.10

A mudança dos núcleos. De Teresa Vieira


A MUDANÇA DOS NÚCLEOS

A tarde procura a noite e no que se refere ao país, julgo que estamos numa épreuve de force sem pesadas componentes na defesa do futuro.

Recordo que uma das fortes noções de humanidade em progresso, chega-nos do sec. XVIII quando se acreditava na ideia de Condorcet, e que assentava numa força indefinida da realidade, sendo esta constituída por humanidade em movimento, num casamento de pré-funcionamento de tudo.

Agora, as “leis” são mais ambíguas, sofrem de todas as interpretações restritivas ou/e elásticas, consoante as circunstâncias da verdade, e se acaso forem "leis" de direito natural, a magistratura do mando pretende criar a ciência desumana da não crença em nada.

Em consequência as ideologias seguem apenas as situações de facto, enquanto os homens agradecem o convite de se mostrarem ávidos robots.

Entendemos que é preciso combater o desperdício institucional da alma, esse que dá calor às casas e que, julgo ser em si só uma atitude.

Como sempre se soube, só vale a pena lamentar as vitimas quando se denunciam os carrascos, por um lado, e por outro a academia tem de se mostrar mutante quando tudo se reduz a um intoxicante modelo.

Também creio que os intelectuais não devem recear comprometer-se face a esta prospectiva de decadência. Há que explicar aos que os aguardam o que afinal está ameaçado. Há que explicar qual é o sinal do espectáculo que promove a morte da vida.

O Alçada dizia-me que só acreditava na mudança se ela fosse a mudança interior e a que chamei então de mudança dos núcleos, aquando dos serões que fomentámos no âmbito da Lisboa-Capital da Cultura em 1998.

Penso o mesmo, mas acrescento que a questão prévia é a do acontecimento-ruptura a partir do qual, aí sim, surgirá o novo ciclo.

Certo é que continuarei a lutar por uma aposta nova, por um acontecimento que englobe diversas tendências num lugar de encontro.

Estamos aí.

Teresa R.B. Vieira

14.02.10