a Sobre o tempo que passa: Tempo de pronunciamentos e de falsos Messias...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.2.10

Tempo de pronunciamentos e de falsos Messias...


E lá vai mais um pronunciamento ministerial, agora do que ocupa a pasta da justiça, depois do apelo de resistência legal à lei feito pelo ministro das finanças...Onde o Estado de Direito é um Estado de Legalidade e onde a legalidade é aquilo que uma maioria absoluta, incluindo a da coligação negativa das oposições, pode decretar...

Mas o apelo a "altas instâncias", a "representantes mais proeminentes" e a "supremos" poderes até poderia levar outro "supremo magistrado" a assumir-se como aquele que decide em estado de excepção, depois de o parlamento expressar sua vontade, e de o poder dos magistrados judiciais poder ser confundido com mais uma organização dependente do principado e verticalmente hierarquizada...

Hipocrisia é dizer que vale mais o nome da coisa do que a coisa nomeada, que a culpa é do mensageiro e não da mensagem. Até Manuel Alegre, invocando Aristóteles, confundiu a justiça com a administração da dita, esquecendo que, na "polis" a que se referia o Estagirita, os tais administradores da justiça eram eleitos, e que os cidadãos não eram canalizados pelos partidos, participando directamente nas decisões...

Sócrates está contra os que fazem “ataques políticos de carácter”. Não sei até se haverá uma proposta, em sede penal, de restauração da pena de morte política, judicial ou jornalística, para os que promovem assassinatos morais, conforme Talião. Os primeiros implicados são os que vêem os outros em "delirium tremens", porque vão para o estrangeiro e aí discutem a Pátria!

A Edite Estrela pode denunciar Berlusconi no Parlamento Europeu, na tal instituição que, para Inês de Medeiros, na AR, é o estrangeiro, talvez por se situar acima de Paris. E o Rangel, esquecido do discurso que fez, há tempos, em defesa do dono do poder em Roma, não pode ser antipatriótico e traduzir o discurso estrelático em calão lusitano, com sotaque de Foz do Douro. Conclusão: quem tem telhados de vidro não pode atirar pedradas. Isto já não é porreiro, pá!

O Estado de Direito são eles. Tem todos os partidos contra eles e onde jornalistas apenas abusam. Eles são a Verdade. Eles são o Caminho. E até têm ministros que usam a farda, e põem a tropa e os meios armados como pano de fundo para pronunciamentos partidários de propaganda.

Soares é fixe! Veio declarar que o aparente vencedor da presente encruzilhada continuará de vitória em vitória até à derrota final, onde serão punidos tantos os facciosos e clientes que o têm apoiado, como todos os que se enredaram nas regras do jogo do sistema, incluindo irmãos-inimigos e homens do apito que, de vez em quando, também tocam na bola e não reconhecem situações de fora de jogo...