a Sobre o tempo que passa: O situacionismo do porreiro, pá, procura ser suficientemente rolha para flutuar...

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.5.10

O situacionismo do porreiro, pá, procura ser suficientemente rolha para flutuar...


A nuvem vulcânica já penetrou território lusitano. As bolsas continuam a afundar. Constâncio já sugere que se reponderem os elefantes brancos. O Papa está a chegar. O Benfica quase a comemorar. Os conservadores ficaram em primeiro lugar nas eleições britânicas. Os liberais tiveram bons resultados. Socialistas governam em Atenas, Madrid e Lisboa...

Também assisti ao momento de tortura psicológica a que foi sujeito um ilustre deputado e compreendo o irreflectido da acção directa que o fará ascender aos anais do anedotário parlamentar. Todos ganhámos, porque todos passámos a ter o mesmo tempo de antena quando tais torturados nos torturarem e quisermos exercer o nosso direito à indignação...

Se a todos nos pode acontecer a cabeça perdida, apenas devemos notar que os fins que cada um tem não podem justificar todos os meios, especialmente quando, depois de beneficiar do palco mediático se denuncia a mesma teatrocracia quando o feitiço do Estado-Espectáculo se volta contra o feiticeiro. Quem vai a essa guerra, dá e leva...

Até tu, Constâncio, na véspera de te ascenderes ao Olimpo, mandas reponderar aquilo para que Mendonça foi feito ministro em vez Nazaré. Vítor, victor, porque nos abandonaste? Vale mais Cavaco que condecorou o Trichet e que o obrigou a dizer que ainda não nos vimos gregos, nós que somos a Turquia cá deste lado...

Julgo que o João Franco começou por querer governar à inglesa e acabou a governar à turca, antes de chegar o Mustafá Kemal e de ser outro o nosso Ataturk, depois de alguns magnicídios. A diferença entre ontem e hoje é que agora há um Viagra especial para discursos de justificação e música celestial...

As bastonadas têm pausa e os donos do poder europeu querem dar fim-de-semana ao tempo, para que as massas regressem à TINA (there is no alternative). O situacionismo do porreiro, pá, procura ser suficientemente rolha para flutuar...

Servos da hipoteca, da avaliação, do carreirismo, do favor e do subsídio, dispersos pela cunha nos meandros da fidalguia, notamos que a sociedade de corte se volveu em casta bancoburocrática, para que o homem comum continue a servir de massa incendiária do conservadorismo do que está...

O neofeudalismo alimenta-se do comunismo burocrático, onde prepondera o senhor ninguém que apenas cumpre ordens e executa o regulamento. O tal despotismo de que ainda não nos descolonizámos, porque habituados secularmente a cumprir esse primeiro dos actos de libertação que sempre foi sair daqui para além dos mares ou dos Pirinéus...

Hoje, negam-nos o exercício de primeiro e mais existencial dos direitos do homem que sempre foi o de nos pormos andar da prisão das alienações caseiras... este "mainstream" discursivo que consegue aliar a maior das injustiças na distribuição dos rendimentos com o maior doença infantil do esquerdismo da Europa...

Não sei como os nostálgicos da revolução que identificam o marxismo metodológico que os conforma com a invocação de Keynes explicam a vitória dos conservadores e a subida dos liberais no Reino Unido, mantendo essa pretensamente caduca lei eleitoral que nos deu a primeira das democracias modernas e nos livrou de Hitler e de Estaline...

Os britânicos têm a vantagem de detestarem a democracia do pronto-a-vestir comprada na loja dos trezentos de uma qualquer afundação afranchisada pelos casinos da Coreia do Norte e não vão em leis fundamentais engenheiradas por assistentes de escola de regime que nos governam para fazerem a tese de doutoramento...