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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.5.10

Tudo como dantes, Manel não sabe como desembarcar no Mindelo


Alegre, em Ponta Delgada, apresenta-se, de forma previsível. Mas não mostra exército para chegar ao Pampelido, junto do Mindelo. Nem sequer rota certa para rumar mesmo para a Invicta. Claro que nunca desembarcará no cais de Belém, com caceteiros à espera. E por mim, preferia que optasse pelo cais das Colunas, como Passos Manuel em 9 de Setembro de 1836, mas já não há vapores que venham do Douro. Nem D. Maria II...

Por isso, não gostei que Alfredo Barroso tentasse matar Fernando Nobre dizendo que ele é um candidato monárquico. Era o mesmo que dizer, de Soares, que ele foi o único presidente republicano que teve um monárquico como chefe da casa militar. Ou que recordar que foi um presidente monárquico que, no dia seguinte ao assassinato de Sidónio, cumpriu o juramento que fez de servir a república.

Até podia recordar a Barroso que já devia ter mostrado essa sanha passadista quando Alegre apresentou um livro encomiástico para o duque de Bragança. Odeio que ponham o preto contra o branco em bipolarizações que não gostam da complexidade dos tabuleiros de xadrez, porque os binários não ascendem nunca a números perfeitos...

Claro que Alfredo, camiliano de gema, e de fundura bem portuga, não deixa de o ser porque Camilo foi assumido patuleia miguelista e, depois, outra coisa mais metafísica, como nos conta Ricardo Jorge. Alfredo, apesar de socialista, é de matriz liberdadeira e de enraizada tolerância, apesar da verbe trauliteira...

Claro que fez muito bem em dar esse abraço de patriotismo republicano a Manel, mas não caia na tentação do argumentário jacobinóide. Os velhos-crentes não precisam da adjectivação neófita, já curtida em defumados sincréticos...

Os velhos-crentes, os que comungam em São Miguel de Seide, sabem que Portugal não é uma fatalidade, mas um plebiscito de todos os dias que nos dá alma para a vontade de sermos independentes....

Os velhos-crentes não gostam de ciência certa e abominam o poder absoluto. Logo, reconhecem que cometem erros e que, muitas vezes, se enganam, mas, nas encruzilhadas decisivas da nossa história, sempre souberam conjugar pátria e liberdade, contra a intolerância, o fanatismo e a ignorância...

Nada há mais empobrecedor do que os fantasmas de direita em santa aliança com os preconceitos de esquerda. Como os do voz do situacionismo, um Miguel Abrantes que nem sequer é heterónimo, que, ontem, se meteu comigo. Não por aquilo que digo e disse, mas porque escrevo "num blogue criado para apoiar o passismo contra o ferreirismo". Podia ter citado o meu passismo no tal DN do dia 14, que veio zurzir, onde até "mostro reserva" quanto à sondagem que faz de Passos algo de superior ao Sócrates

E nem sequer acrescenta o que também disse ao mesmo jornal: "Passos Coelho é um político que é como os melões, não se abriu completamente". Bem como o que sublinhei sobre a reversibilidade das sondagens: "depende do tempo e muito mais das circunstâncias". Basta para tal Abrantes a qualificação diabólica, mesmo que o conteúdo expressamente o desminta.

Não me chateio com o tal dito Abrantes, tão escondido como a palha e com o quartel no mesmo sítio sem lugar. Apenas lembro que já me fez herói de citações quando malhei no laranjal, seja ferreirista ou passista, para gáudio da malta dos gabinetes do poder instalado. Apenas não posso é atacar sua excelência o situacionismo socrático. O meu passismo, sé se for o do meu velhinho blogue dito "sobre o tempo que PASSA". Antes do passismo já PASSAVA....