a Sobre o tempo que passa: Há que evitar juízos inevitáveis e visivelmente discutíveis. Por Teresa Vieira.

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.1.11

Há que evitar juízos inevitáveis e visivelmente discutíveis. Por Teresa Vieira.



Se é certo que não devemos subestimar a dimensão dita política, também é certo que há que vê-la no lugar que lhe compete, o que não é fácil no afrontamento do momento-que-passa.

Mais uma vez (como se a Revolução Francesa tivesse sido ontem) os menos interessados em transformar a qualidade de vida, confiscam os dias em seu proveito, banindo quem se lhes oponha com alguma reminiscência de juízo crítico.

Assim, perante a encenação do poder, há que perceber os modos de estar ao lado desse mesmo poder, e de preferência fazendo medo com ele, qual elemento de cativação e de acerto dos domesticados na catação futura.

Desfolham-se programas de razões e atitudes e fazem-se jus aos manifestos austeros que limpam o pó dos discursos desengavetados do comecemos já que a felicidade espera-nos.

E mais uma vez é necessário partir sem compromissos nem amarras e ter a coragem dos juízos inevitáveis face às realidades tão discutíveis. E mais uma vez as opções não admitem falsas aparências.

Voltamos a dizer que há que dizer não! à alienação de um presente não vivido e com a mesma força com que se deve afirmar o quanto a utopia não é uma quimera; e com a lucidez de sabermos o quanto a Revolução só é, quando é a vida toda; e que se diga sempre que o compromisso definitivo é incompatível com o caminho da esperança.

Afinal, pioneiro será sempre o horizonte. Entenda-se!

Afinal « o Estado está no poder e o poder no dinheiro e o dinheiro no trato e o trato na cobiça que é uma perenal fonte donde todos os bens manam» (João de Barros).

Afinal o nosso Infante D. Luís já se não recordava de terem ido para a Índia homens a quem a cobiça não dominasse.

Afinal, a passagem é a da escuridade do futuro para um novo dia. E só daí se alcança.

E só daí se encontra a forma de provar que a vida faz calar mais do que a morte!, pois que a página de uma vida não se enumera nunca!

Como não sabem?

M. Teresa B. Vieira

18.01.11