Contra o compromisso dito keynesiano
1
Já não tenho idade nem pachorra para aturar facciosismos, mesmo dos pretensos pensamentos dominantes, os que nos obrigam ao beija-mão face aos que nos querem unanimizar numa opinião ou num hábito, transformando-nos em rebanhos sistémicos, incluindo daqueles que, feitas as contas sociológicas, não passam de minorias face à maioria dos portugueses que restam.
2
Pior ainda quando nos pretendem decepar a fibra multi-secular, logo que os pastores de tais correntes, pela demagogia expressa, retomam os tiques inquisitoriais dos denunciantes e, pior do que isso, dos traidores, apelando ao sermão e ao cacete. Apenas se esquecem que até o falso trono não lhes costuma pagar em reconhecimento. Usa-os e, depois, logo os deita fora.
3
Convém mantermos a elevação de crenças que nos tornam humildes servidores daquelas correntes profundas que nos dão alma e a que só podemos aceder através do esotérico de uma conversão interior, sem exoterismos fáceis.
4
Resisto no desabrigo de ser minoria, não cedendo às procissões que nos convidam para os clubes bonzos e sistémicos, de reservado direito de admissão, onde só entram os que torcem às válvulas de escape dos presentes jogos de poder.
5
Confesso que não subscrevo o dito compromisso keynesiano em que desaguaram muitos arrependidos do marxismo, os eternos beatos da economia mística e os oportunistas do liberalismo a retalho, isto é, todos os que se têm sentado, como alegres convivas, à mesa do orçamento. Continuo do lado da esperança dos desesperados, preferindo, à revolução, o homem revoltado.
6
O aparelhismo do poder, perdido nos velhos jogos feudais do capitaleirismo e da sociedade de corte, pode alimentar as classes partidocráticas do rotativismo, entretidas entre o presidencialismo do presidente e o presidencialismo do primeiro-ministro, mas não consegue a urgente restauração da república e das suas comunidades.
7
Só conheço um método: o golpe de Estado sem efusão de sangue, a que damos o nome de eleições, conforme a definição de Karl Popper. Qualquer curto-circuito de violência pré-política gera sempre pior emenda que o soneto.
8
República, hoje, mesmo para os adeptos das velhas mas não antiquadas leis fundamentais, é refazermos o pacto de união, ou de associação, e as restantes consequências do contrato social, do pacto de governo, que não seja de sujeição, ao próprio pacto de constituição, para que a legalidade reencontre o consenso aclamativo da legitimidade, sem ser a falsa legitimação pelo procedimento.
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