a Sobre o tempo que passa: Da autoridade à manha, a fase da cenoura

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.10.04

Da autoridade à manha, a fase da cenoura



O segundo passo do processo político é a autoridade.

Aqui, o emissor da palavra não está no mesmo plano do receptor. De um lado, temos o autor, do outro, uma audiência.

E o autor do discurso ocupa um lugar superior, fala a partir do lugar onde se concentra o poder.

Um lugar mais alto que é normalmente o lugar dos alicerces lançados pelos fundadores.

Na fase da autoridade já não se utiliza apenas a arte de levar ao convencimento pelo argumento, que pressupõe igualdade

Quando falham tanto a persuasão como a autoridade, isto é, o discurso feito a partir de cima, a partir de um nível superior de autoridade, eis que se entra numa terceira fase para a obtenção do consentimento, a fase do que David Easton qualifica como manipulação, onde se usam os métodos da astúcia, do engodo ou da manha. Como dizia Maquiavel, é preciso ser raposa para conhecer os fios da trama e leão para meter medo aos lobos.

Temos assim que, como recordava Freud, o poder utiliza a força para coagir, mas emprega a astúcia para convencer.

É aqui que entram formas como a ideologia, a propaganda e o próprio controlo da informação.