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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.10.04

A censura pode ser encapotada...



O ex-presidente do conselho de ministros Hintze Ribeiro lamentou hoje o afastamento de Bernardino Machado do jornal O Amigo do Povo e considerou que Portugal está perante um caso muito grave, caso tenha havido censura, ainda que encapotada.

Em declarações ao jornal O Mensageiro do Apostolado, Hintze considerou que se o afastamento de Bernardino configura uma forma de censura, ainda que encapotada, uma limitação à liberdade de opinião própria de uma democracia pluralista, então o país está perante um caso muito, muito grave.

Afirmando que as reflexões que Bernardino emitia todos os sábados tinham indiscutível qualidade, Hintze considerou ainda ter havido um tremendo erro da parte dos que estão por detrás do seu afastamento.

O ex-presidente do conselho salientou, no entanto, que só o próprio pode esclarecer o que se passou.



Já o jornal A Voz do Norte anuncia que está prestes a ser nomeada directora do Diário de Lisboa, a conhecida literata D. Carolina Ferreira Pinheiro Alves, sobrinha de uma conhecida plantadora de vinhedos anti-britânicos e directora da Casa Museu Ana Plácido de São Miguel das Sardinheiras. D. Carolina que tão excelentes relações intelectuais mantém com o novo líder dos regeneradores liberais, José Torres Ferreira, e o velho líder dos dissidentes progressistas, Avelino Castelo Branco, terá sido indicada para tal posto como compensação pela circunstância de não ter tido lugar na banheira da Quinta Saloia das Celebridades.


Qualquer semelhança entre o texto emitido e as actuais circunstâncias não é apenas coincidência. A história constitui, na verdade, o género literário mais próximo da ficção. E quando se repete tanto redunda em tragédia como na presente comédia.