Os pensadores e os tarimbeiros
Falhanço colectivo foi o do regime do Estado que quase se configurou como um república de catedráticos assentes nos dogmáticos cadeirões do poder, acabando por tornar bem traumáticas as relações entre o saber e o poder, face à permanência dos atavismos inquisitoriais e pombalistas, entre as juntas expurgatórias e as deduções cronológico-analíticas.
Talvez por isso é que o abrilismo pós-revolucionário acabou por ser configurado pelo sistema dos tarimbeiros, onde os professores universitários mobilizados para as tarefas da governação foram quase sempre usados como tecnocratas, à maneira do modelo fontista.
Desses, os mais que mais alto atingiram o cursus honorum foram quase sempre chamados ao poder em pleno ciclo de progressão académica, como aconteceu com Diogo Freitas do Amaral, Marcelo Rebelo de Sousa, Francisco Lucas Pires ou Carlos Alberto da Mota Pinto. Porque, como o sistema considera que um bom político tem que ser marcado pelo princípio de Peter, não se pode recrutar quem seja um homo academicus em plena liberdade de cátedra, dado ter condições para ser um homem livre.
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