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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.11.04

Povo que já nem no silêncio sonha. Recebido de O.S.



Não terá havido um grande esforço das gentes que nos governam para que os "ajustes remodelativos" tenham tido lugar na véspera do início do julgamento da Casa Pia.

Vejamos a partir de hoje e a cada dia o circo mediático montado à volta deste caso que se cresce e multiplica já à sombra da desatenção do povo que tanto clamava justiça às vítimas.

Aliás, já a partir das 6h. da manhã - o tal povo que muito se queixava da miséria de vida em que vivia sob este governo - levantou-se bem cedinho para ter lugar entre os 15 privilegiados que se sentariam no Tribunal para ouvirem bem como se vai safar este ou aquele ou, ver ao vivo como os animais saltam por entre os arcos de fogo sem se queimarem que, depois, vão-se bater muitas palmas aos domadores.

Sim, que isto de ter tido lugar uma remodelação governamental nos termos em que a dita teve lugar, não justifica, nem acordar cedo, nem pensar no assunto sequer…as coisas só são o que são e nada mais..



O entretenimento é outro e é e será servido de bandeja pelos media durante muito, muito tempo, que assim o povo anda ocupado no trabalho de se sentir o juiz-moralidade-activa de uma nação de gentes que não descortina o real inimigo.

Entretanto Portugal lá recebe mais 1,3 mil milhões do III QCA que, segundo o governo, irá ser colocado à disposição, nomeadamente da sociedade da informação e do conhecimento…enquanto teremos a Feira Popular de Lisboa no Jardim do Tabaco e porque não? No espaço da antiga feira vai ser construído o maior museu de artes onde se pode consultar as dietas dos cantinhos da nutrição dos promotores imobiliários e outros valores de afinidade.



E eis que o Maestro Graça Moura foi detido hoje de manhã e não se sabe ainda porquê, mas não interessa porque independentemente de haver uma justa causa ou não, o importante é que se vão prendendo algumas pessoas de real nome que assim o tal povo vai achando que se faz justiça e tomem lá mais um rebuçado para se entreterem.

Eis o arrepiante e devastador estado do Estado, frase esta retirada do Jornal "Público" a propósito de uma questão diferente ou similar à que falamos.

Como bem afirmou João Miguel Tavares, a asneira está tão entranhada na vida política nacional que passou a ser sinónimo de normal funcionamento das instituições.

Nós, confessamos que, chamar-lhe asneira é de uma delicadeza insuperável.

Como sobremesa deste breve desabafo sugerimos que se aproveite para impressionar os amigos, que a mendicidade infantil pode, ouviram bem? pode, apenas pode estar a aumentar em Portugal.

Lealdade traída? Não!

Depois de casa roubada o país não encontra nenhuma tranca à medida da disforme porta que se colocou dentro do pensar deste português povo que já nem no silêncio sonha, que já nem se dá conta que baila nu como um espectro longe da memória do que foi.

C'est tout.



Ainda se não ouviu um grito de real fúria!

O que aconteceu no dobrar do Cabo das Tormentas, relata-se agora com sorrisos de pseudo saber, no seio de desnecessárias reuniões, entre os tais seres pensantes desta geografia de terra que se deixou afundar deixando a ibérica península com menos um pedaço que falta não lhe faz.

Oremos, pois, os que o sabem ou dizem saber fazer.

Outra alternativa é aquela que nos levará a sairmos todos deste país que aceitou renegar a NAÇÃO pela qual muitos bravos derramaram o sangue para que nascessem vidas que, necessariamente lhes deveriam honrar a memória.

Heróis do mar, nobre povo!

Que a ninguém move a Liberdade!

O. S.