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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.12.04

Contra os ministros do reino por vontade estranha

Sim!...É a hora do quase fim. Os actores disponíveis já não se adequam à peça que tem de ser novamente escrita, para reinventarmos Portugal. Estes disponíveis órgãos que se manifestam pelos "soundbytes" já não se adequam à necessária função que a pátria exige. A direita que optar pelo "dejà vu" de um "aggiornato" regresso ao passado talvez cometa um erro crasso, mesmo que opte pelo fantasma de um falso carisma, revisto, acrescentado e triunfante.

Tanto não estou na direita da direita, entre o confessional e o populista, disputando os restos da margem do sistema, como não consigo ser da chamada direita revolucionária que, de tanto querer ser revolucionária ou reaccionária, deixou de ser direita porque entrou em órbitra extra-sistémica. Confesso-me um pobre kantiano, um incorrigível liberalão que é fiel à religião do Estado de Direito e, talvez, esteja condenado a ser um humilde defensor deste regime que ajudei a construir em luta de rua, funções de Estado e partidária militância, pelo que não quero rasgar trinta anos da minha folha der serviço.

Não serei mobilizado pelo aventureirismo nem pela falsa ideia de eficácia politiqueira. Sinto-me cada vez mais um radical do centro excêntrico, sito na esquerda da direita, contra aquilo que foi gerado por esta sucessão de cavaquismo, barrosismo, portismo e santanismo. E liberal, sem ser neo-liberal, não posso cair na tentação tecnocrática, dado que concebo, na senda de Aristóteles e São Tomás de Aquino, que a ideia de justiça constitui a estrela do norte da política, porque importa exigir de cada um conforme as suas possibilidades e dar a cada um conforme as suas necessidades.

E o que está neste momento em causa, não são as cadavéricas noções de direitas e esquerdas que já não há, mas a salvação pública de um conceito de "res publica"m ou de comunidade política, onde os ministros voltem a ser os escravos da função ("servus ministerialis"), os funcionários, os que servem um ofício ou que são vigários do bem comum. Quero um Estado com partidos, contra a partidocracia, um regime de competência, de meritocracia, contra os desviacionismos das repúblicas de catedráticos e das repúblicas de juízes. Quero, sobretudo, que nos libertemos da casta banco-burocrática que domina o financiamento partidário e, indirectamente, o poder que é gerado por este neo-feudalismo dos homens das malas.

Os governos de Portugal não podem ser dominados pelos feitores dos ricos e pelos "ministros dos reino por vontade estranha". Quero que o Manuelinho vença, através de eleições, que defenestremos, sem violência, os agentes filipinos, para que se tente cumprir, finalmente, o sonho da Maria da Fonte e da Patuleia.