Clube dos homens livres
António Barreto: Esta semana, o Parlamento foi nomeado. Três cavalheiros, Santana, Sócrates e Portas, nomearam pessoalmente cerca de 80 deputados. Visto de outro modo, mais ou menos 5.000 pessoas dos cinco partidos, reunidas em comissões locais ou nacionais, nomearam 190 deputados, ou seja, a quase totalidade do Parlamento que entra em funções dentro de seis semanas. Falta agora os restantes oito milhões de eleitores designarem os quarenta deputados que ainda se não conhecem.
Vasco Pulido Valente: Claro que a comédia das listas, principalmente agora e principalmente no PSD (e também um pouco no PS) tem alguma graça. A atracção fatal de Santana por personalidades do submundo dos "famosos" revela bem a essência do homem. E os mesquinhos cálculos de Sócrates dão uma ideia muito exacta da mercearia (e da vingança) "socialista". Mas sobretudo o exercício demonstra exuberantemente a artificialidade do sistema político português. No PSD, o chefe atafulha à vontade as "listas" com a sua seita. No PS, é atribuída ao chefe uma quota privada de 30 por cento. E no CDS, o chefe escolhe o pequeno número de "elegíveis". De facto, em conjunto, os chefes pessoalmente nomeiam de metade da Assembleia da República, que, por inadvertência, a Constituição descreve ainda como órgão de soberania. A isto se chama, em Portugal, um Estado democrático.
Miguel Cadilhe: Como o exemplo deve vir de cima, começar-se-ia por reduzir drasticamente a composição do novo Governo, em número de ministros e secretários de Estado, e correlativos gabinetes. Há aí, desde há anos, uma abundância perdulária de recursos e de eficiência que salta aos olhos e se contagia em cadeia. E propor-se-ia ao Parlamento uma draconiana auto-reforma, porque, parafraseando a sabedoria de um velho de outras paragens, não é o Parlamento que é grande, o país é que é pequeno.
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