O admirável mundo novo. De M. Teresa Bracinha Vieira
Entretanto em Lisboa continuava-se a pensar nas relações comerciais com a China.
E isso quando?
Ora bem, quando o rei de Castela entrou em Portugal a pedido da regente Leonor Teles.
E a regente era casada com quem?
Bom, ela era neta do marquês do Pombal, grande uomo como dele dizia o papa Clemente XIV, e o marido de Leonor Teles foi o D. Luís de Meneses, 3º conde da Ericeira, que tinha uma tal visão dos acontecimentos que, descobriu em 1754 que a pipa de vinho, paga pelos ingleses no Porto a dez mil-réis era vendida em Inglaterra a setenta e sete mil-réis.
E porquê?
Porque já a célebre condessa Mumadona cujo filho já governara Portucale, sempre teve uma percepção coeva de que a acção governativa era coisa notável se se encontrasse uma solução - como nos Estados modernos - que limitasse o livre lucro a quem explora os mais fracos.
E depois?
Bom, depois iniciaram-se, como consequência, as conferências de samoras que hoje têm lugar no âmbito da União Europeia.
Ah!, então é por isso que já não há a gostosa fruta portuguesa, eles compram-nos tudo a preços baixos e depois deliciam-se com o sabor e o lucro?
Claro, meu filho. Daí a ideia de repor a soberania nacional tal qual a inspirada pela Constituição de Cádis. É que 1822 foi há pouco tempo. Mas também precisamos de um José Bonifácio de Andrada e Silva para que a nossa independência em relação aos países poderosos que nos querem fazer mal, tenham a resposta adequada.
Como tudo é tão complicado! Não é?
Nem tanto. Em 1968, o Prof. Marcelo Caetano sucedeu ao Dr. Salazar e há gente muito importante deste país nos dias de hoje que afirma, que esta fórmula da evolução na continuidade ainda é eficaz.
De resto não esqueças que o início da Terceira República foi há pouco tempo e ainda não existe uma distância focal que nos localize com clareza a formação de uma imagem histórica consistente.
Mas, D. Afonso Henriques foi o primeiro rei de Portugal, não foi?
Sim, foi, mas não te esqueças dos mouros, dos visigodos, do reino suevo, dos lusitanos que guerreavam com os romanos e também das manifestações da cultura neolítica.
São tantas as coisas! Que até é melhor não lhes tocar, não achas?
Talvez, meu filho, mas o que não podes esquecer é o quanto as evoluções são lentas e a pré-história continua-se firmando nos nossos dias, ainda que o referendo e as eleições que estão aí para chegar, tudo esclareçam.
Tem calma! Que também o povo é sereno!
E se não for?
Bom! Esse seria o prazer inesperado!
(Diálogo retirado do tomo III da Estória das Ideias- sec. XXI, in "O Admirável mundo novo". Para maiores desenvolvimentos ver bibliografia citada no capítulo "Sistema Político", pp.103 segs.)
M. Teresa Bracinha Vieira
5.1.05
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