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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.1.05

Elementos para um manifesto eleitoral, utilizável por qualquer partido



Falta ainda muita viagem por cumprir para que os homens de boa vontade possam passar as tormentas a alcançar a boa esperança de um caminho para a humanidade, quando o ser vencer o ter, quando o amor vencer a guerra.

Quando tratarmos o outro como o próximo, o vizinho, o conterrâneo, o compatriota, o nosso irmão.

Quando, sem negarmos as pequenas pátrias e as grandes pátrias, soubermos ascender à terra dos homens, à cosmopolis e pudermos dizer, como Pessoa, "tudo pela humanidade, nada contra a nação", mas desde que cada nação seja entendida como caminho para "uma super-nação futura".

Quando vencermos os impérios que nos invadem, de forma visível e invisível, pelo mercado ou pela colonização cultural.

Quando, de mãos livres, pudermos ter fé no homem, no seu destino ou no seu transcendente.

Quando o abraço armilar nos voltar a aquecer.

Não, ainda vivemos nas guerras civis ideológicas, nas guerras frias culturais, nas guerrazinhas de homenzinhos, desses que são marcados pela vontade de poder, nesta anarquia mansa que, subterraneamente, nos amarfanha pelas longas teias da cobardia, gerando as sucessivas ditaduras do situacionismo e da incompetência.

Bem apetecia clamar contra a direita a que chegámos e a sua irmã-inimiga, a esquerda que aí vem.

Bem apetecia apelar ao cidadão das massas anónimas: "não deites o teu voto fora, vota por ti agora!".

Insurge-te contra este mais do mesmo, desobedece aos compadres e comadres desta partidocracia, não admitas que, no espaço público, em nomes das razões de Estado, se pratique aquilo que não admites em tua casa, na tua família, na tua rua, na tua terra.

Volta a ser um homem livre, não tenhas medo!

Não transformes a política na continuação da guerra civil fria, com outro nome.