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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.1.05

Nova Dona Brites, precisa-se!



Nestas coisas das pesquisas internéticas, às vezes, deparamos com algumas das profundezas mais doentias da nossa cultura. Assim me aconteceu, quando recolhendo dados sobre a padeira de Aljubarrota, a nossa mítica Dona Brites, encontrei a seguinte heróica observação: hoje, a heroína que nos dão para exemplo continua a ser a que os fascistas nos transmitiram: a padeira de Aljubarrota, cuja violência cobarde deveria antes envergonhar-nos. Contudo, fiquei estupefacto quando descobri que o mais clássico dos destruidores de mitos da nossa história, Alexandre Herculano, considerava que deveria difundir-se o mito da padeira, a par de outra das nossas fundações imaginárias, como as chamadas Cortes de Lamego. Mas logo a seguir temi, ao recordar o aproveitamento futeboleiro do tema, principalmente quando a equipa de Scolari teve de enfrentar a selecção espanhola de futebol.

Esquecendo o romance histórico de Faustino da Fonseca sobre o tema, coisa tão politicamente correcta quanto o recente espectáculo da associação cultural “A Menina dos Meus Olhos”, apenas quero deixar o registo gráfico da caricatura "A Padeira de Aljubarrota", de Silva e Souza, no jornal "O Pão", de 1910, onde o Afonso Costa, qual "padeira de Aljubarrota", empurra para o forno da padaria os políticos monárquicos. Quem me dera que voltassem estes nossos caricaturistas, em vez das anedotas de cartazes políticos que por aí abundam! É que um novo padeira sempre poderia dar com a pá nalguns desses "chamorros" que por aí se manifestam... o drama está em que eles podem tornar-se em "adesivos" e dar, depois, com a pá no Afonso que os não esturrou de vez.