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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

1.2.05

O mandato do questionar. De M. Teresa Bracinha Vieira



Assiste-se com regularidade excessiva a que os seres da política e seus eternos candidatos, centrem na sua vontade a outorga de um direito de posse do mundo que identificam ser o turbilhão no qual se irão movimentar, disseminando sementes aqui e ali, que irão ser colhidas por quem aceita a condição trágica de ser o servo do servo de uma gleba usurpada.

Não se vislumbra o aproximar entre homem e mundo, na medida em que o mundo surge-lhes tão só, como, e enquanto, representação da sua exclusiva vontade.

O processo do conhecimento de uma causa, não se inicia dentro destes seres do eu-conquistador, porquanto não se coloca interiormente o mandato do questionar.

Ignoram-se as essências, tal como se despreza que o acto político implique o nascimento de um fruto histórico. Na verdade, tudo é redutor ao minuto seguinte que se esgota em intervalos do nada.

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A tudo isto, acresce que não há condições para a libertação e para a dignificação do homem. Não existem causas que consolidem o apetite pelas lutas justas.

Assim o mundo do político tem estreitas relações de parentesco com os mundos fragmentados e, necessariamente alheios a um ventre mátrio, suporte de raiz a qualquer ideia que consubstancie, ao menos, a tentativa de uma passagem que negue o nacional-populismo básico.

Não se vislumbra nenhuma atenção a esta estranha sociedade inacabada, a não ser aquela que conduz a que um conceito de Estado, se identifique, como sinónimo de um centro, que exerce as funções de um Estado de sucesso, colonizado de vácuos até às entranhas, que afinal se apega ao conceito de uma jihad travesti.

O evolucionismo corporativo e a hierarquia de supostos clãs, restaura e instala a restauração dominante de um reino incaracterístico e pardo, portador de uma bibliografia que se aconselha, para que assim se não viole a autarcia vigente, que exerce a pilotagem da vida dos seres que a ela se amansam.





Tal como Stirner, não fundei a minha causa sobre um nada. Sempre meditei nas sociedades antes do Estado, e naquelas que contra um certo tipo de Estado, mobilizam as gerações que intentam criar uma cultura política, enquanto entidade desenvolvida e diferenciada.

Não me parece que o discurso da ética da política a que se assiste em telenovesca sequência, alguma vez tenha atentado nas palavras de Aranguren.

Até agora, a maioria das supostas perspectivas avançadas à solução dos problemas que se vivem, limitaram-se a compatibilizar o existente com o existente, alternando-se os métodos de se atingir o mesmo, como objectivo condenador à real alternativa de vida a que o Homem tem justo e inerente direito.

Não se perca, pois, o tempo com estudos comparados sobre a actual crise e crises anteriores. Verdadeiramente promissor, seria o enveredar por diferente trajectória.

A novidade dos tempos é a descentralização do pensar, certamente discussão em profundidade que transcende os limites deste artigo.

Ainda assim aqui deixamos o apelo à ruptura de um sistema, para que as profundas mudanças na estrutura social, possam ter como referencial um elevado nível de diferenciação, na criação de um inovador projecto político, que não dispense os Homens da sua construção: do seu direito à sua ideia.

M. TERESA BRACINHA VIEIRA

(31.01.05)