A nossa democracia não nasceu nas cidades...
Começa a Primavera, com muita chuva chegando à terra, enquanto Sócrates se vai apresentando parlamentarmente. E vou ouvindo atento. Tudo. Numa das suas proclamações, suscitada por Maria de Belém, refere que "a democracia nasceu nas cidades". O que é verdade para a Grécia, o que talvez não seja verdade para Portugal. Que, aqui, a democracia mergulha as suas raízes no visigótico "conventus publicus vicinorum". Até começou por ser a igualdade aldeã, assente na freguesia, nessa "comuna sem carta", como lhe chamava António Sardinha.
Foi, freguesia a freguesia, que fizemos o concelho. Foi, concelho a concelho, que nos demos em comunidade de nossa terra, com voz em Cortes. Foi, a partir da aldeia, que acedemos à "república maior", ao abraço armilar, que passámos, de homens bons, a homens livres, sempre a caminho da república universal, da nação, enquanto "super-nação futura".
O Portugal político, isto é, o Portugal democrático, porque não há "polis" sem democracia, é essencialmente de vizinhos, dos que, pelo "small is beautiful", sabem que só pode haver comunidade pelo "face to face". Com efeito, os profundos "factores democráticos da formação de Portugal" levaram a que as nossas cidades e vilas fossem feitas por subscrição aldeã.
Mesmo Lisboa, das sete colinas ou das sete aldeias federadas, não deixa de ser terra de hortas e de gente nostálgica do rio que passa em suas terras. Talvez só o Porto seja retintamente burguês, no seu "oppidum", feito capital do bloco rural do Norte, como porta aberta ao comércio externo e ao sentido de viagem. Aquilo a que muito chamam "pequeno-burgueses" talvez não passe desses habitantes de uma urbe com saudades da santa-terrinha, dos que sofreram o cerco dos invasores e que a partir dos portos urbanos peregrinaram por todo o mundo. Para plantarem mais aldeias, mais concelhos, mais cidades...
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