a Sobre o tempo que passa: Algumas heterodoxas preocupações de um liberdadeiro da não-esquerda

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.4.05

Algumas heterodoxas preocupações de um liberdadeiro da não-esquerda



Há uma velha família partidária portuguesa que teve como presidentes Diogo Freitas do Amaral, Adriano Moreira e Paulo Portas, paradigmas de um certo conceito de (in) coerência, onde a pluralidade das procedências permitiu a inevitável fragmentação das descendências e tem justificado a sucessiva emanação de dissidências. É natural que o legado do grupo ande sempre a renascer das sucessivas cinzas e refundações, dado que é difícil detectar-lhe a espinha dorsal, dado que tende a ser uma espécie de alvará que qualquer neófito usa, conforme os caprichos da moda e os conselhos dos exagerados publicitários que recruta.

Compreende-se assim que o ambiente interno, marcado por alguns fracassos e por muitas meias-derrotas, tenha acabado por gerar aquele pretenso grupo de amigos que cordialmente se vão odiando, apesar de persistir uma cordilheira aparelhística de homens-bons que, de vez em quando, vão aos congressos e aos conselhos nacionais e que têm sido sucessivamente freitistas, piristas, adrianistas, monteiristas e portistas, da mesma maneira como podem voltar a ser freitistas, monteiristas e portistas, em nome de um qualquer comprimido ideológico que um iluminado guru ou um tecnocrático gabinete de estudos retire da gaveta e transforme em parangona intelectual que os semanários políticos possam glosar.

O velho CDS ameaça, mais uma vez, renascer das cinzas, recorrendo agora à prata da casa, entre um militante de sempre, que já foi super-monteirista e super-portista, e um histórico e ex-dissidente, que teve um breve intervalo de ilusão apoiante de uma força adversa. Que tenham boa sorte!



Aconselho-os a ler um blogue sinceramente fundamentado, bem longe da minha postura, para quem as direitas são, principalmente, quatro famílias: os "anti-Estado" (ultra-liberais na economia, liberais nos valores); outros menos ultra mas igualmente liberais (liberais na economia e flutuantes nos valores); os conservadores (reaccionários nos valores e liberais na economia); e os nacionalistas (reaccionários nos valores e proteccionistas na economia)", dizendo que a "antiga facção mais conservadora e patriótica do CDS-PP, ... já lá não se encontra".

Como não faço parte de nenhuma delas, também não subscrevo o conceito de valores que está presuposto nesta análise, como justamente me observou outro ortodoxo, referindo-se ao "comentario marginal" que o "sorprendió", um post meu que não recebeu "valoración" directa, mas cuidadosos avisos doutrinais, para que os incautos não se deixem enredar na minha deriva panteísta, defensora do diálogo entre o humanismo cristão e o humanismo maçónico, naquilo que deveria ser uma espécie de encontro de Assis à portuguesa.



Aliás, a minha heterodoxia continua a ser rigorosamente defensora dos valores, nomeadamente os da autonomia pessoal, os tais que me levam a ser defensor da descriminalização da IVG, para ser liberal na economia, na sociedade, na política e na vida pessoal. Logo, se isto não se enquadra naquilo que tais blogues consideram como "de direita", acabo por ficar sem lugar, dado que não me considero nem me qualifico como "de esquerda", apesar de poder estar bem mais à esquerda do que certas pessoas da actual esquerda situacionista. Continuo, portanto, no extremo-centro e cada vez mais solto.