a Sobre o tempo que passa: Emplastros, bascos, europeísmos e albertos

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.4.05

Emplastros, bascos, europeísmos e albertos



O país e o mundo vistos das parangonas dos jornais pode gerar miopias e anedotas. Veja-se, por exemplo, como são os concursos para professor catedrático na disciplina de direito constitucional, onde podem concorrer especialistas no controlo dos jogos da Misericórdia de Lisboa, fiscalizadores dos serviços de espionagem, membros do conselho de jurisdição do PSD e até distintos intelectuais do santanismo, fundadores da ciência portuguesa do internacionalismo jurídico-político, quando, descascando a notícia sobre "constitucionalistas estão divididos", reparamos que afinal estão bem firmes na unidade, porque, contra Jorge Miranda e Gomes Canotilho, os quais entendem que a proposta de lei do Governo de limitação dos mandatos de titulares de cargos políticos não é inconstitucional, apenas aparece um inevitável imitador do "emplastro" à maneira de Helena Lopes da Costa, que confunde avenças alaranjadas e protagonismo jornalístico com prestígio científico.



Quando se anuncia que o F. C. Porto pode ter o destino do Olímpico de Marselha e descer de divisão, eis que Valentim Loureiro apela ao Presidente da República e a todos os organismos com responsabilidades no País para colocarem um ponto final às violações do segredo de Justiça, acusando os tribunais de não estarem a cumprir a lei. E tudo isto no dia em que os bascos vão às urnas e onde o fundamental da decisão pode ser a aprovação do chamado "plano Ibarretxe", desencadeando-se o processo de liquidação centralista do Estado espanhol e de regresso às Espanhas, movimento que, se for acompanhado pelo "não" francês ao super-Estado europeu poderia levar ao repensar da maravilhosa aventura da União Europeia, longe da cara de plástico de Durão Barroso e dos agentes integracionistas à maneira da "investigadora-jurista" da Direcção-Geral dos Impostos, chamada Maria Eduarda Azevedo.



Para que a coisa culminasse, bastava atendermos às palavras de Manuel Monteiro no congresso refundador do respectivo partido: "esta coisa de termos um partido com múltiplas interpretações sobre o sentido das palavras democracia e liberal pode ser muito interessante do ponto de vista académico mas não é aliciante no plano da intervenção partidária". Porque "ao contrário do que sucede com os partidos grandes, um partido acabado de nascer não se pode dar ao luxo de ser tudo e o seu contrário". Assim, no que diz respeito às eleições presidenciais, o PND deverá, ao contrário, ter uma posição muito clara: "não deve chutar para canto e tem que definir com clareza em quem quer votar", sem citar Lobo Xavier. Porque isso é exigível "em especial num partido que segue o presidencialismo, um partido que tem uma proposta constitucional não pode deixar de ter uma posição".

É evidente que, seguindo o regime do "no comments", também reparei na perlenga de Alberto João, no seu constante exercício de pressão sobre o partido nacional onde se integra, que não é o Partido Nacionalista Basco. Com efeito, o poder da teledemocracia é fugaz e quem abusa de uma imagem sem conteúdo, ou de uma táctica sem estratégia, pode morrer com os próprios ferros com que ousou matar. Se não fossem o Quaresma e o Mantorras, o movimento das noras, no sobe e desce, ainda seria mais desafiante. Talvez o Pinto da Costa ainda pudesse festejar o título de campeão nacional...