a Sobre o tempo que passa: Escritos sobre a pele

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

19.5.05

Escritos sobre a pele



É hoje. Às 18 horas. Na Biblioteca Victor de Sá, da Universidade Lusófona, pelas 18 horas, ao Campo Grande nº 380 B, que ocorrerá a cerimónia do lançamento do livro de Teresa Vieira, "Escritos sobre a Pele". A apresentação caberá a Maria Inês Castelo Branco. Este blogue está naturalmente em festa. Porque a Teresa Vieira nos dá a honra de ser uma constante colaboradora do "tempoquepassa" e a Maria Inês, uma grande amiga. Não consigo falar com isenção das coisas a que não sou alheio. Apenas desejo à minha irmã Teresa que outros tempos que passam possam notar que hoje se vai escrever uma importante página da história da literatura portuguesa! Convoco os homens e mulheres livres desta pátria para não perderem a oportunidade de dizer: Presente! Os momentos de beleza são acontecimentos que nunca mais se repetem!

Apenas sublinho recentes palavras de Horácio: A Pele é um espaço de passagem, de diálogo: uma linha ténue entre dois mundos que se os separa também os une. É sobre esta porosidade da pele que se busca um caminho para a proximidade do ser: onde a linguagem é a sua moradia. Da pureza, do elemento catártico da água ao seu devir como rio ou riacho; do fogo à escuridão noite; dos deuses que habitam junto à lareira à vitrina de um antiquário onde se requisita a máscara; da vigília ao sono da tarde; do sonho à realidade; das arrumações e desarrumações do ego preparando-se para a última viagem; dos labirínticos recantos da memória ao imaginário – o corpo é o espaço (o ethos) onde vê-se porque é vidente e vê-se porque é visível e neste jogo, nesta inocência, no reflexo do espelho, inventa-se reinventando permanentemente o presente sobre a alegoria da linha que é pele. A reminiscência, o recordar, este reanimar do passado, sem negar o esquecimento, é a aprendizagem da temporalidade: onde escrever é inspirar, e expirar, o ser que é a vida.