a Sobre o tempo que passa: Morreu a velha nova direita, viva a novíssima, tão beta quanto a defunta

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.5.05

Morreu a velha nova direita, viva a novíssima, tão beta quanto a defunta



A queda de alguns dos mais mediáticos anjinhos da recente nova direita devia levar alguma gente a reparar no processo de fabricação de tais sumidades, de acordo com a receita da chouriçada típica da direita que convém à esquerda. A velha teoria do criador e da criatura não reparou que o pretenso criador foi, ele próprio, mera criatura de um mecanismo gerado pelos pretensos intelectuais de esquerda com o apoio da direita dos interesses, a qual sempre quis vingar-se rapidamente e em força dos danos que lhe foram causados pelo PREC. Julgo que ainda faltam alguns dados para que seja feito o imprescindível inventário desse episódio que levou à ascensão e queda do portismo, a esse pretenso êxito de uma ilusória conquista do poder por um pequeno grupo de amigos de colégio e de bares do Bairro Alto, sendo bem mais útil notarmos como já está em curso nova fabricação de uma novíssima nova direita, feita com os mesmos ingredientes chouriçais.



Primeiro, inventa-se um rapaz de génio, trintão se possível, e sem qualquer âncora profissional ou académica. Segundo, tem que ser de boas famílias, com nome que aparente nobiliarquia burguesa. Terceiro, convém que tenha sido publicamente elogiado por um qualquer marechal intelectual da esquerda, assim recebendo o carimbo de civilizado. Quarto, deve ter um ar de diletante, de pena fácil e capacidade para o assassinato verbal dos mais velhos da mesma direita. Quinto, tem que ser suficientemente dotado de falta de escrúpulos, capaz de injúria impune e de falta de respeito pela verdade. Por outras palavras, o que lhe sobra em inteligência e capacidade vocabular tem que ser directamente proporcional à falta de carácter, de maneira que possa ter a ilusão de ser uma criatura susceptível de gerar uma corte de seguidores, através de uma seita de companheiros, também eles de nome mediático, de fácil comércio no "jet set" e com excelentes relações de cumplicidade na mediacracia.



Qualquer analista de parangonas repara que o processo de endiriteismo em curso, levado a cabo pelos filtradores de esquerda, já lançou a sua rede no poder infra-estrutural que nos pretende algemar, recebendo o adequado apoio da federação dos viscondes e de alguns dos respectivos imitadores. O suporte bancário da chamada direita dos interesses dá-lhe as necessárias garantias financiadoras para seminários, revistas e patrocínios livrescos, permitindo uma descarada aliança com a esquerda dos aparelhos culturais. Uma aliança já firmada cujo artigo matricial é unânime quanto à condenação inquisitorial de todos os que escrevem contra a corrente ou que pensam pela própria cabeça, os quais correm o risco de marginalização pelo silêncio. Quem duvida desta santa aliança inquisitorial apenas precisa de fazer um breve inquérito sobre quem é condecorado pela esquerda situacionista com a medalha politicamente correcta do politicamente incorrecto, reduzindo a pretensa direita inteligente ao estreito beco de certos filhos-família de uma alta burguesia devorista que consegue recolher os benefícios dos sucessivos regimes e situacionismos. E se a isto reduzirem a direita, eu serei de extrema-esquerda!