a Sobre o tempo que passa: O regresso do relapidado Partido Popular das Regiões

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.5.05

O regresso do relapidado Partido Popular das Regiões



As principais estrelas autárquicas dos grandes partidos portugueses estão a causar difíceis digestões a alguns dos novíssimos líderes políticos portugueses, aumentando o volume de algumas pedras vesiculares e renais. Depois de uma primeira refeição de queijo limiano, Ribeiro e Castro saiu sorridente do seu encontro com Daniel Campelo, sendo aguardada com grande expectativa a próxima viagem de helicóptero que fará com Avelino Ferreira Torres, com partida marcada para o estádio de Marco e aterragem em Amarante, depois de um breve sobrevoo de alguns armazéns de electrodomésticos da zona. Porque se esta aliança não for firmada, o renovado CDS corre sérios riscos de ver reactivar-se o extinto Partido Popular das Regiões que o velho autarca marquense ajudou a lançar, eventual refúgio para candidatos condenados à independência, como Isaltino de Morais e Valentim Loureiro, dado que não se espera uma candidatura de Fátima Felgueiras e estão seguros outros autarcas socialistas como Narciso Miranda e Mesquita Machado.



Se Isaltino se sente "perseguido por falsos moralistas como Marques Mendes e Paula Teixeira da Cruz", já outro consagrado e coerente líder, Manuel Monteiro, comunicou ao "Diário de Notícias" o seguinte: "se entender que Francisco Assis é o melhor candidato à Câmara Municipal do Porto, por que motivo não hei-de dar-lhe o meu apoio? Só porque ele é socialista? Isso para mim não faz sentido." Em relação a Lisboa, o presidente do PND admite vir a apoiar Carmona Rodrigues, que será o candidato social-democrata ao município da capital. Porque "os militantes da Nova Democracia devem sentir-se livres de apoiar os candidatos que considerarem melhores entre os partidos pertencentes à área democrática, do PS ao CDS, em função de critérios de competência, podendo até participar nessas listas", adiantou o líder do PND, que pretende dar desta forma "um contributo para despartidarizar e descomplexizar" as eleições autárquicas.





Graças a este mobilizador processo de aprofundamento da democracia, também Alberto João Jardim veio visitar a Câmara Municipal de Castelo de Paiva, sem ameaçar oferecer o Funchal como sede para o reactivado Partido Popular das Regiões, embora já tenha sido constituída uma comissão de historiadores que tentam decifrar o mistério dos vários deputados regionalistas do regime da Primeira República, enquanto, na cidade de Coimbra, se começa a tentar perceber a razão que levou o diário com o nome da cidade a intitular-se durante décadas como "órgão do movimento regionalista das Beiras". Utilizando uma simples linguagem politólogica, apenas observaremos que estamos a assistir a uma revolta dos caciques locais contra os tecnocratas dos aparelhos centrais dos partidos, dado que estes, depois de assaltarem o centro do poder partidocrático, se preparam para utilizar a escova da homologação centralista para limpeza da máquina dos bons rapazes que tãos amigos deles eram.




Se Isaltino já está "arrependido" das colocações que, outrora, arranjou a Marques Mendes e a Paula Teixeira da Cruz, os quais, agora, parecem preferir os apoios de Ernâni Lopes a Teresa Zambujo. Se José Ribeiro e Castro, em nome da sua experiência de dirigente desportivo na lista de Vale e Azevedo, com quem, depois, justamente, se zangou, recorda outra importante experiência de futebolítica que o elevou a presidente da Assembleia Municipal de Sintra, na lista liderada por Fernando Seara, que até contou com o apoio activo de Manuel Monteiro, todos os novos presidentes de partidos começam a vislumbrar como quem tem vitórias com o pedibola pode ter que engolir sapos e pedras vivas.



Nem o Marco subiu à Super Liga nem o Felgueiras teve sucesso, apesar de ter havido boas prestações do Marítimo e do Nacional. Contudo, os clubes do município onde se situa o Estádio Nacional são, sobretudo, de natação e "fitness", enquanto o Boavista não mudou a sede para Gondomar e o Sintrense continua a marcar passo. Viva o Partido Popular das Regiões e publiquem-se, em regime de obras completas e edição crítica, todas as inspecções autárquicas referentes aos municípios citados, bem como os respectivos despachos expressos e tácitos de remessa para o fundo da gaveta, para que possa haver «partidos fortes, afirmativos, regenerados», com uma «única preocupação: fazer política com seriedade, com honestidade e com credibilidade», para citarmos um ilustre fafense de Caxias. O país profundo precisa urgentemente da restauração do Grupo da Sueca, bem como que Carlos Magno volte a passar na íntegra o programa que, outrora, emitiu a partir do Palácio da Bolsa do Porto, com Ferreira Torres e Valentim Loureiro, sobre alguns meandros do PREC. Apenas concluiremos, observando como seria bem mais excitante o campo político com um PSD liderado por Luís Felipe Menezes, apoiado por Pinto da Costa, com a recandidatura de Pedro Santana Lopes em Leiria.