a Sobre o tempo que passa: Viva a Naval 1º de Maio!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.5.05

Viva a Naval 1º de Maio!



O futebol, apesar da futebolítica, é, por vezes, revelador, daquilo que são as profundas raízes da nossa democracia comunitária, daquela igualdade e daquele associativismo que vindos das profundas pessoais se enraizaram na sociedade antes de chegarem ao Estado. É com o orgulho de indígena dos campos do Mondego que, daqui, saúdo a subida aos lugares cimeiros do campeonato nacional de futebol profissional das gentes da Figueira da Foz, dessa Associação Naval 1º de Maio, fundada no ano de 1893 (símbolo roubado ao Almocreve das Petas), em nome de um sonho socialista em plena sociedade demoliberal. Esta mais do que centenária associação demonstra assim que nem tudo o que é antigo é antiquado, dado que o enraizadamente velho pode estar redivivo e contribuir para elevar a minha querida segunda terra ao seu devido lugar de claridade, sem necessidade de "paraquedistas" que a ponham no mapa.

É por isso que sorrio com outras notícias da futebolítica, nomeadamente com a referente ao conselheiro ‘leonino’ Dias Ferreira, sondado para ser candidato autárquico do PSD em três câmaras do distrito de Lisboa. Chegou mesmo a ser convidado, segundo apurou o "Correio da Manhã", para assumir uma candidatura à autarquia de Loures. Sou assim obrigado a concluir como a coisa da distrital lisbonense do PSD está mesmo ao Preto, até porque o caso Isaltino ameaça ir para os tribunais, não obstante o comentário dominical de Marcelo Rebelo de Sousa que encravou Mendes ao considerar que as eventuais candidaturas de Isabel Damasceno e de Valentim Loureiro padeceriam da mesma deficiência.

Tenho de concluir que, apesar do Primeiro de Maio de ontem, que além de dia do trabalhador, foi também dia da mãe e dia do Senhor, certo português do faz-de-conta continua a demonstrar um típico respeito alienígena face ao medinho, assumindo aquela manhosa postura do serviçal face ao capataz, fingindo dizer o que parece conveniente, num seguidismo pouco entusiástico face ao que é decretado politicamente correcto pelo colectivismo moral dominante. É este portuga do fingimento o exacto contrário do antes quebrar que torcer, mas nem por isso homem da Corte chega a ser. Fica-se como simples candidato do rigorosamente ao centro que, entre o sim e o não, prefere o nim, entre o socrático paradigma do boi-piranha e a elevação do "granda nóia" a exemplo ético-político...