O triunfo dos porcos...

Na falta de estimulantes notícias sobre a política lusitana, para além dos pensos rápidos e do mercurocromo com que se vai disfarçando o reformismo de Sócrates e das angústias de Mendes e de Coelho quanto à escolha de candidatos autárquicos a Gondomar, Leiria e Oeiras, restou-me continuar a ler o Calino da minha pequena pátria, onde pode ler-se este belo naco de prosa: "É inédito em todo o mundo! Um museu dedicado ao porco só existe na recôndita vila da Pampilhosa, no concelho da Mealhada. Milhares de exemplares daqui e d’além, documentos, livros, notícias, postais e tantos outros acervos relativos ao porco, estão patentes num museu da Casa Quinhentista. É inimaginável o que ali se pode ver relacionado com o porco."

Com efeito, a nível da macropolítica, apenas ficámos a saber que o ex-primeiro ministro Santana Lopes afastou segunda-feira a hipótese de se candidatar à Presidência da República, adiantando que vai regressar à advocacia e integrar um grupo financeiro internacional quando terminar o mandato na Câmara de Lisboa, enquanto as trombetas nos anunciam a condecoração que Portas vai receber de Donald Rumsfeld: a medalha dos serviços públicos distintos é a mais alta condecoração do Departamento de Defesa a civis que não trabalham para o governo e raramente é atribuída a estrangeiros. A medalha é entregue a quem, entre outros pontos, tenha prestado serviços motivados por patriotismo, boa cidadania e sentido de responsabilidade pública, segundo os regulamentos do Pentágono. Assim, é com orgulho que Portugal vê um seu alto dignitário suceder a Paul Bremer pelo seu serviço como «administrador» do Iraque após a queda do regime de Saddam Hussein, e a Zalmay Kalizad, enviado especial dos Estados Unidos ao Afeganistão. E tudo, aliás, acontece no dia seguinte à derrota de Mourinho face ao Liverpool...



Continuando a citar o Calino: "Quem imaginaria que um dia os porcos tivessem um museu que se dedicasse exclusivamente à sua existência. À sua origem e história? Nem os americanos (férteis a apresentar insólitos) ou os chineses (especialistas na inovação) se lembraram de tal. Pois bem, na recôndita vila da Pampilhosa, no concelho da Mealhada, existe um museu que se dedica especificamente ao porco. Curiosamente, este museu, sedeado na Casa Quinhentista do Grupo Etnográfico de Defesa do Património e Ambiente da Região da Pampilhosa (GEDEPA), apesar de existir há cerca de 10 anos, é mais conhecido no estrangeiro que no nosso país".

Quase me apetecia dizer o que referia Charles de Gaulle face a Monnet: que ele era um grande patriota... norte-americano..., coisa que não faço, porque agora "patriot" é nome de míssil e não quero colocar Portas fora do seu posicionamento natural, numa altura em que ele se preparara para uma dessas viagens científicas num universidade norte-americana que costuma receber estagiários do Ultramar. Porque tal distinta personalidade da nossa submarinagem, especialista em ataques a piratas abortistas e em alargamento do mar territorial, quando regressar dos "States", e antes de publicar o seu prometido romance, poderá brindar-nos com um extenso e aprofundado manual sobre o ensino das ciências ocultas no novo sol da terra, o que lhe permitirá suceder a outros manitus, também ex-ministros, continuando o ritmo da tradução em calão dessas matérias, nas secções mentais concordatárias, tão brilhantemente dirigidas por John Charles Sword.

Por mim, confesso, sou tão pouco conservador que ainda nem sei bem como se escreve o nome da "dama de ferro", porque não sabendo adequada etimologia "british", tendo a rascunhar "tatcher" em vez de "thatcher" e recordo-me sempre desse tráfico de lata comendadora com que a medalhística do coleccionismo deu a Carlucci para receber de Rumsfeld. Prefiro continuar a ler o Orwell, especialmente esse magnífico romance sobre o desembarque na "baia de los Cocinos", operação da CIA que garantiu a presença do galego Fidel de Castro durante décadas em Havana de los Charutos...

Segundo os jornais, o apoio português aos EUA na Guerra do Iraque e a opção por material bélico norte-americano no esforço de reequipamento das Forças Armadas Portuguesas estiveram na génese, segundo o Pentágono, da decisão da Administração norte-americana em condecorar o ex-ministro da Defesa, Paulo Portas. Questionado pela Rádio Renascença se foi um bom negócio para Portugal, o futuro bolseiro nos "States", que sempre foi e continuará a ser uma pessoa pública, embora não uma pessoa colectiva de eventual utilidade pública, esclareceu que "não se tratam de negócios porque não se trata de contratos privados com nenhum consórcio privado; trata-se de acordos entre o Governo português e o Governo dos Estados Unidos, porque quer os aviões de combate, quer as fragatas, eram das Forças Armadas americanas".