a Sobre o tempo que passa: Um país de assimétricos e pé coxinho

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.5.05

Um país de assimétricos e pé coxinho



Leio que Portugal é "um país ainda bastante conservador, pouco aberto à economia de mercado e à flexibilidade dos contratos de trabalho, onde a maioria revela alguma intolerância relativamente aos imigrantes e à entrada das mulheres no mercado de trabalho. É este o retrato de Portugal que sobressai de um estudo efectuado por um conceituado instituto francês (TNS Sofrès), a pedido de um agência de publicidade com sede no mesmo país (Euro RSCG)". E tenho de concluir que somos o país mais hipócrita da Europa, porque quase noventa por cento do país político é de esquerda: comunista, socialista-democrático ou social-democrata. Porque, em Portugal, os eleitores estão à esquerda dos simpatizantes, os militantes à esquerda dos simpatizantes, os dirigentes à esquerda dos militantes e os programas à esquerda dos dirigentes.



Isto é, continuamos coxos, que é forma idiomática de nos dizermos assimétricos, bem descaídos para a sinistra funda e com um défice de equilíbrio. O que até nem é de estranhar, porque, para utilizar um qualificativo dado pelos actual ministro dos estrangeiros do presente governo socialista, também Salazar era socialista, usava bota de elástico e talvez andasse ao pé coxinho. Por outras palavras, ninguém é o que diz ser, mas aquilo que convém parecer. É por isso que, mantendo o meu radicalismo patuleia, e para gozar com o pagode, por cá continuo no extremo-centro do meu liberalismo miguelista, ou miguelismo liberal, que é forma provocatória de me dizer federalista e nacionalista, ou republicano e monárquico, assim na esquerda da direita e mandar que os inquiridores franceses distingam o conservadorismo do que está do conservadorismo do que deve ser.