a Sobre o tempo que passa: O Poeta resiste. O Poeta não morre. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.6.05

O Poeta resiste. O Poeta não morre. Recebido de M. Teresa Bracinha Vieira



Dos poetas, talvez deles jorre um dia uma humanidade melhor e mais humana.

O poeta é um dardo de luz, um desses filamentos de sol que iluminam as paisagens ainda desconhecidas.

O poeta é sempre alguém interdito porque não aceita a desertificação das percepções, das intuições, dos afectos.

O poeta nunca afrouxa, nem se deixa infectar.

O poeta recebe os seus visitantes aflorando ao rebordo da argila.

O poeta enrodilha palavras numa síntese de rebeldias e sacode-as para os céus que as devolve em água, fonte ou ave.

O poeta indaga de porta em porta a alma na sua surpresa, na sua aflição, na sua inquietude, na sua alegria datada.

O poeta será sempre o dia acabado de nascer. A grande razão.



E num fulgor e num fluir, escreveu Eugénio de Andrade:


Para jardim te queria.


Te queria para gume

ou o frio das espadas.

Te queria para lume.

Para orvalho te queria

sobre as horas transtornadas.


Para a boca te queria.

Te queria para entrar

e partir pela cintura.

Para barco te queria.

Te queria para ser

canção breve, chama pura.



M. Teresa Bracinha Vieira