O chefe supremo manda. Está mandado!
Ligo a televisão. Numa, a não sei quantos Companhia, mangando à tropa, mas sem jumento. Ficou a burra. Noutra, travestis brincando às manifestações do PNR diante da estátua do Cargaleiro e debaixo da bandeira do Santana. Mais adiante, o latim vernáculo qualificador das partes íntimas do corpo que todos temos, fazendo propaganda às "sex-shops". Logo a seguir, notícias sobre a depilação de Lili Caneças e sobre o infantário em que anda o Dinis que é filho da Bárbara. Tento escapar, mas logo vejo o esquadrão G. Vale-nos que Nuno Gomes marcou três golos. Com eleogios de Seara. Que o Sporting perdeu as garras. Com lamentos do Dias Ferreira. Que a águia não voa. Para sorriso do assessor de Luís Filipe Menezes. Que os dragões estão dependentes das tranças de um sul-africano. E que só se safa o Mourinho, possível treinador dos "God Save the Queen", antes de substituir Scolari nos "Heróis do Mar". Viva o Magriço! Por favor, onde fica o exílio?
O país dos intelectuais é, com efeito, uma balança sem fiel, deusa ou espada, onde todos os pesos da pressão pendem para um dos lados, querendo transformar o que resta do Portugal-que-pensa-pensar numa simples colónia cultural da estupidez de uma sub-Europa de exportação para as bolsas terceiromundistas das respectivas periferias. Aliás, o próprio jornalismo de ideias vigente constitui uma das primeiras cabeças do chamado quarto poder, procurando configurar-se como uma nova espécie de catedratismo, desse que, outrora, foi representado pelas universidades. Aliou-se, aliás, à chamada cultura empresarial, medida pelos padrões da compra, esse parecer a que falta o ser e que acaba por ser medido pelo ter.
Fátima Felgueiras foi detida esta quarta-feira pelas autoridades portuguesas à sua chegada do Rio de Janeiro. Segundo uma fonte da PJ, a antiga autarca terá pedido para ser detida. O socialista Manuel Alegre continua disponível para ser candidato presidencial. Em Portalegre, o deputado, que considerou ser preciso libertar a democracia, disse que nunca tinha confirmado ser candidato, mas que também nunca tinha feito o contrário. O chefe supremo manda. Está mandado! Presidente da República, Jorge Sampaio, promulgou hoje as duas leis contestadas pelas associações militares e que estão na origem da manifestação de quarta-feira, em Lisboa. As chefias têm de ser os intermediários entre o Governo e os militares e não as associações.
Todos representam o que de mais vácuo há nessa ponte do tédio que vai do poder para a cultura, constituindo uma forma suave e gaguejante daquilo que têm os Maxwell, os Murdoch e os Berlusconi, esses que, vendendo mistelas de pornografia e análises de política internacional, conseguem marcar o ritmo dos que pensam pensar. Surgiu assim um estranho pensamento em Portugal que nada tem de enraizadamente português, constituindo a principal via da nossa nova forma de colonização cultural e de empobrecimento identitário. E não haverá nenhum manifesto anti-Dantas, capaz de proclamar revolta, nem ninguém capaz de dizer que o rei vai nu. Não. Porque o situacionismo se vai suicidando, pela criação de incomensuráveis distâncias entre o país político e o país real. Isto é, Portugal vai ficando cada vez mais estreito, cada vez mais fechado sobre fantasmas, cada vez mais prisão, para quem sente a liberdade, para quem apenas tenta encontrar o bom senso.
Obras em terrenos de Ferreira Torres não cumpriram embargo e foram feitas em reserva ecológica. ILGA Portugal quer marcar agenda nacional com discussão sobre casamentos de gays e de lésbicas. PSD tem "reservas". José Iglésias Soares deixa o IPAD. "A política tem horror ao vazio", diz Marcelo Rebelo de Sousa, lembrando as ausências de Guterres e Durão. Manuel Monteiro defende apoio a Cavaco Silva. Um dia, José Gama, um autarca visionário, decidiu transformar as margens do rio Tua e criou jardins ao longo da cidade. Mirandela tornou-se atractiva e, mais de 10 anos depois, a cidade do interior transmontano continua a colher frutos dessa ousadia. Nas zonas rurais, o tempo é ainda de espera.
Mesmo aquilo que por outros já foi pensado tem que ser, por nós, repensado, para lhe acrescentarmos a mais valia do actualismo, o estampido de viver. Para lhe darmos a realidade das circunstâncias e o sopro do nosso próprio eu. Sem essa fluidez de vitalismo não há corrente de pensamento e apenas continuaremos a rastejar nesta unidimensionalidade acrítica e não criativa onde nos vamos estupidificando.
Conforme recorda a edição desta quarta-feira do jornal Diário de Notícias, o mandato de Mendes Cabeçadas, CEMGFA escolhido pelo anterior ministro da Defesa, Paulo Portas, para substituir Alvarenga, termina já no próximo dia 20 de Novembro, pelo que Luís Amado vai ter decidir se reconduz Cabeçadas no cargo, ou se opta por manter a rotatividade imposta nos últimos anos e nomeia agora um general do Exército, o actual Chefe de Estado Maior do Exército (CEME), general Valença Pinto. Contudo, no Exército, Valença Pinto não é, segundo o DN, o único nome com hipóteses de vir a ser nomeado para CEMGFA, uma vez que também os generais Pinto Ramalho e Mourato Nunes são dados como nomeáveis. Duas hipóteses que, a tornarem-se realidade, deverão, no entanto, provocar convulsões no seio do Exército, uma vez que Valença Pinto promete bater com a porta, caso venha a ser preterido.
Sem imaginação não há efectiva razão. A palavra é sempre um rio que procura sua foz desde que brota da nascente. É sempre a procura do discurso, sempre a procura de si mesmo. Porque a palavra corre o texto em seu discurso, sem margens que a contenham, sem represas que a proíbam. E apetece ser palavra, ser corrente, águas de uma vida que ninguém detenha, ser palavra à procura da minha foz, à procura do sentido que deu para si mesma, no tempo do tempo voltar a ter seu tempo.
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