a Sobre o tempo que passa: Democracia e restos de subsistemas de medo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

22.10.05

Democracia e restos de subsistemas de medo


Imgem de Nils Brakchi

Continuando na senda do anterior postal, agora sem qualquer laivo metafórico, mas mantendo a crueza analítica, sinto o dever de comunicar que uma sociedade aberta e pluralista não pode manter os tiques escleróticos do subsistema de medo, herdados do autoritarismo, muito especialmente se os mesmos actores da persiganga salazarenta continuarem, muito decretinamente, antiquadas condutas de "signoria".



Se este regime teve a grandeza de lhes reconhecer a qualidade, olvidando as zonas sombras do respectivo "curriculum" despótico, e sem sequer lhes pedir uma reconversão ao estilo da poliarquia e do consensualismo, isso não significa que tenhamos de silenciar as brutalidades dos salamaleques vigentes.

Os conspiradores de alcatifa que se assumem como supremos conselheiros dos sucessivos poderes que se vão sucedendo neste vazio de autoridade a que chamam regime, se podem continuar a sanear pela vindicta nihilista, não podem escapar a estas notas de pé de página, onde chamo mau cozido à portuguesa à imagem de esparguete à bolonhesa com que querem liquidar a obra fundada por el rei D. Dinis.



Custa-me que o patriotismo científico e a religião secular da democracia continuem a ser contaminadas por vérmicos processos de maquiavelismo de salão, mesmo que disfarcem com o pó de arroz de afamadas aparições mediáticas em concertos de música celestial.



Afinal, continuamos a preferir o decretino nomeativo à velha justiça da igualdade de oportunidades e não parece que sejamos capaz de decepar o atavismo inquisitorial das irresponsáveis denunciações de ouvida que, ainda no século XX, se reanimaram com a versão ministerialista da bufaria pidesca.

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