a Sobre o tempo que passa: Analisando as calúnias, os palhaços e o roubo do sofrimento

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.10.05

Analisando as calúnias, os palhaços e o roubo do sofrimento



Cansado de tanta operação de desmantelamento das manobras do eterno sindicato dos ressabiados e de ouvir tantos discursos celestiais sobre o sexo dos anjos, entre executantes das estúpidas teorias da conspiração e pequenos maquiavéis de cordel subministerial, calei, para poder confirmar a existência de sociais-facsistas, isto é, da eterna aliança de estalinistas e salazaristas, num caldo de cultura da patifaria, sandeu demais para a minha concepção do mundo e da vida. Por mim, continuo a ser institucionalista, a querer ideias de obra, obediência a regras e manifestações de comunhão em torno de coisas que se amam. Rejeito todos os que continuam escravos dos grandes chefes de outrora, esses ausentes-presentes que proclamam o "depois de mim, o dilúvio", deixando como sucessores os inconscientes cães de fila. Quero esquecer e sobre a sandice, nada dizer.



E vou sentindo a manhã subir com o sol a aquecer-me por dentro, recobrando forças para continuar a cumprir minha missão. Ligo a televisão e sinto a frescura do discurso de Lygia, o nosso Prémio Camões, criticando a mania dos que querem fazer de todo o mundo uma série de países de muitos eventos, onde alguns deles são velórios, enternecidamente movido pelo prémio Nobel dado ao teatro do absurdo e à esquerda radical, onde, em vez de literatura, se dão bengaladas na Margaret, no Ronald, no George e no Tony, enquanto, no plano doméstico, se assiste a mais uma manif contra um qualquer bispo, porque afastou mais um qualquer senhor prior que era tão bonzinho que até fez um grupo coral para as ovelhas jovens voltarem ao adro da Igreja. Mais grave é o facto de não haver castanhas por causa da seca, porque como se viu em muitas árvores, há seis ouriças para uma só castanha, num ano que vai ser raro em quentes e boas e com más notícias sobre o CD do orçamente que só vai chegar a São Bento na próxima segunda-feira.



Sobre o julgamento da Joana, apenas transcrevo o que li algures na blogosfera: que todos nós gostamos de espectáculo. Para alguns espectáculos temos de comprar bilhete e pensamos se vale a pena e se iremos gostar. Outros espectáculos são oferecidos mas envolvem algum esforço de deslocação ou dispêndio de tempo que poderia ser empregue noutras coisas e pensamos se vale a pena. Mas há espectáculos que nos apanham desprevenidos: o espectáculo de um julgamento onde não há lugares para todos os que querem assistir torna, uma vez mais, a justiça num circo romano - vendam-se bilhetes à porta e equilibre-se o défice do ministério; o espectáculo proporcionado por Salgado de Matos, chamando palhaços aos provincianos que elegeram os bobos autárquicos, foi um bom momento de riso - em que província terá ele votado ou sido eleito?

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E no mesmo lugar também leio: após sofrermos com a nossa seca, com os nossos fogos e com as inundações, tsunamis, tufões e sismos dos outros, vamos agora poder sofrer com um tufão pequenino só nosso - chama-se Vince. Algumas forças de bloqueio e desmancha "prazeres" já o qualificaram como tempestade tropical mas uma tempestade não tem nome e os americanos já ocuparam a letra V com o nosso tufãozinho. É nosso e temos de ter cuidado para evitar mais catástrofes. Só que roubaram-nos o nosso tufão!!! Desviaram-no... Dissolveram-no em vergonha, tipo, nós estamos preparados, venha a chuva que tanta falta faz. Amarfanhado, o Vince desistiu e não nos atingiu. Logo, continuamos a sofrer pelos outros. Sabemos que tudo é proporcional e que temos de relacionar o número de mortos com a população de cada país: Cinco mortos na China não é o mesmo que cinco mortos no Liechenstein. Mas números são números e pessoas são pessoas e 40 mil pessoas são muitas, muitas lágrimas.

Confesso que não tive ainda pachorra para meditar sobre as autáraquicas. Apenas me apetece citar a mesma entidade observadora: o grande derrotado foi... a Calúnia. Fátima Felgueiras, Isaltino de Morais e Valentim Loureiro ganharam as respectivas Câmaras municipais, derrotando a Calúnia. Apenas Avelino Ferreira Torres não se conseguiu impor, tendo sido vencido por Francisco Louçã, no que este disse ter sido uma vitória do BE, ou da Calúnia nas palavras do próprio candidato, não se sabendo ainda se o BE assume a paternidade da miúda.

E, depois houve a transmissão televisiva das eleições autárquicas: do alto dos pedestais colocados nos estúdios, os comentadores políticos/não políticos criticavam os políticos eleitos/não eleitos por os terem anteriormente colocado em pedestais colocados em salas de conferências de imprensa que por sua vez criticavam os comentadores. Uma das principais críticas dizia respeito à falta de distinção entre justiça e política, a lentidão da primeira que é provocada pela falta de decisão política ou pelo não acatamento da decisão política por parte dos que administram a justiça ou pelo não acatamento das decisões da justiça por parte dos políticos. (Quem percebeu esta parte, conseguiu perceber quem era pivot, comentador, politico e candidato).