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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.11.05

No dia seguinte ao de São Nunca Mais, com finadas damas candidatas a primeiras



Acordo nesta cidade que já foi sismo, tsunami, terramoto político, do marquês a Santana, de Sampaio ao que chegámos e já não recordo como ontem o mar feito água a ferver que atirou os barcos para dentro do burgo. Ficam-me o sons dos sinos e a homilia de D. Policarpo a dizer que é favor do referendo ao aborto. Hoje já é dia de finados ou de fiéis defuntos e talvez não haja campanha presidencial. Já bastou que ontem, em dia de São Nunca Mais, tivesse que assistir ao espectáculo das capas das revistas cor de rosa, onde a Alexandra Lencastre rivalizava, não com a Teresa Caeiro e as celebridades da telenovela e dos “reality shows”, mas com as candidatas a primeiras damas.



Fiquei a saber que uma destas presidenciáveis que, por acaso, tem nome igual a noventa por cento das senhoras com a idade dela e que até podia ser filha de outra candidata sua rival, fiquei a saber, por esta ciência de capa colorida, que a dita cuja padece de vida mui dramática. Porque Sua Senhoria não terá conhecido sua mãe, dela. Porque fez muitos sacrifícios por seu marido, dela. E, finalmente, porque se dedica muito aos netos que Deus lhe deu.



Ainda não me foi dado ver a próxima capa sobre outra potencial primeira dama que nos quer reger, sucedendo a outra simplesmente Maria Ritta, dado que estou mais interessado em saber das capas das revistas madrilenas, onde Letizia ovetense deu à luz uma neta de Estadão, uma Leonoreta de Burbão, descendente de taxistas, a quem desejo que não venha a reinar sob os céus de Lisboa.



Por cá, apenas esperamos que Dona Fátima de Felgueiras se candidate a Belém, para quem em vez de primeiras damas se dê capa a primeiros valetes, sem novas de um velho PS desconhecido, onde surgem notícias de Macau, com secretários correndo atrás de malas e muitas mesas do orçamento cheias de restos de comida nos pratos de lentilhas. Ou que as capas alaranjadas de outros “media” nos tragam cosidos à portuguesa, com nabos, farinheiras e restos de arroz de polvo com salsicha fresca e muita pescada sem espinha dorsal. Por favor, onde fica o exílio?