a Sobre o tempo que passa: A pronunciação da Alfândega do Porto

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

27.10.05

A pronunciação da Alfândega do Porto



Vamos ouvindo a pronunciação discursiva de Cavaco Silva na Alfândega do Porto, num programa de governação que pode ser sufragado pelo povo e entrar em contradição com o programa do governo vigente. Na sala grande, centenas de VIPs de primeira, deixando os VIPs provincianos pelos corredores, ou agarrados ao plasma. E quase podemos dizer que, com tantas elites político-partidocráticas, político-militares e político-bancárias, que hoje foram mobilizadas pela fina flor do situacionismo societário, tal como há dias, no Ritz, se tinham reunido, em torno do soarismo, as elites do presente situacionismo aparelhista, talvez seja de substituirmos as eleições por uma mistura de passagem de modelos com a sondajocracia. A aula está a ser chata, longa e mui cumprida. Dá-nos tédio esta quebra do tabu.

De um lado, a grande unidade da parcela laranja da pós-revolução; do outro, o mais envelhecido modelo da síntese soarista. Entretanto, ao mesmo tempo que Cavaco levava o seu discurso ao meio, os telejornais entrevistavam Alberto Costa e os grevistas do partido dos becas, enquanto o ministro da defesa continuava a enfrentar o partido da tropa e a da educação se preparava para enfrentar a primeira greve dos professores promovida em conjunta pela UGT e pela CGTP. Assim, com este governo socialista em estado de des-graça, com meia dúzia de candidatos à presidência invocando a grande unidade antifascista, parece que o grande desafio passa por sabermos se haverá segunda volta.