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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.10.05

Estes endireitas e estes canhotos ascenderam ao celestial estado da bonzice galinácea.....



Em dia de muitos alarmismos sobre a chegada da gripe das aves, entre as praias de Peniche e os galinheiros da Feira, vamos ficar a saber que Soares é contra o situacionismo, que Cavaco é da oposição e que Louçã apenas está contra o consenso mole, porque este último é Pureza, dito pintasilguista, talvez como Alberto Martins, tal como Soares é Joana Amaral Dias e Cavaco, afinal, é Pedro Lomba. Com tanta velha esquerda e outra tanta velhíssima nova direita, sinto que não sou definitivamente de direita nem de esquerda, porque estes endireitas e estes canhotos ascenderam ao celestial estado do bonzice galinácea.



Já sem feiras com galos e galinhas, as notícias sobre avezinhas infectadas aparecem todos os dias. São papagaios em Londres, vindos do Suriname, patos na Suécia, cisnes na Croácia e outros patolas na Rússia, na Turquia e na Roménia, talvez porque Freitas do Amaral deixou de comentar o assunto, numa conferência que fez no Instituto de Relações Internacionais de Moscovo, onde, eventualmente terá explicado o percurso da direita em Portugal, no pós-abrilismo, nessa estúpida tentação que a levou a procurar como líderes personalidades marcadas pela volubilidade das ideias, crenças e princípios. Os tais que, para justificarem os adesivismos e os viracasaquismos, quase sempre situados nas raias da traição, consideram que o espaço político que lhes permitiu a personalização do poder, sempre foi mais estreito que as respectivas ambições predadoras.



Esta falta de espinha, habitual nas lideranças de grupos como o ex-CDS, levam a que muitos direitistas tenham de reconhecer que o povo dessa faixa sociológica teve razão quando puniu eleitoralmente tais primas-donas que, depois de muitos discursos do pé-atrás optaram pela desvergonha de se colocarem em bicos-de-pés, na disputa de uma qualquer prebenda ofertável pelos antigos adversários. Também não é coincidência o facto de tais antigos marechais da direita não terem, no respectivo curriculum, qualquer espécie de militância doutrinária e política durante toda a juventude. Assim, cereberalizando o que deviam ser crenças, transformaram os valores e princípios em hábeis canalizações piramidais de uma engenharia conceitual.



Acresce que os mesmos marechais sempre usaram das armas da feudalidade na respectiva vida académica, transformando as coutadas catedratícias numa procissão de vaidades decretinas e nomeativas que apenas merecem muitos arrotos de tédio. Porque nestes domínios não interessa a obra nem o sermão, bastando o hábito da designação oficial para que um qualquer leigo, sem vocação, preparação ou ordens menores, ascenda ao autoritaritarismo do monge.




Basta lermos de soslaio o curriculum remetido por certos membros das comissões de honra e alguns mandatários das candidaturas presidenciais, para notarmos esse oportunismo predador, de um situacionismo assente em intelectuários e em filósofos da traição. Por isso é que muitos foram ao festival do licor de Beja, homenageando Mariana Alcoforado e outros tantos se entusiasmam com Jerónimo a marrar em Cavaco, com Alegre a espetar farpas no PS, com o Sporting a empatar em Barcelos, com Cristiano Ronaldo a ser acusado de violações intra-europeias e comigo aqui sentado sem candidato onde votar.Pensavam que estavam proibidas lutas de galinhas antiquadas.